Nada é novo debaixo do Sol...
Cotovia@mafalda.carmona
Está tudo inventado, a vida de um Hamster, Ariadne, Anjos e Inteligência Artificial
- Olá Pessoas! Neste dia em que um enorme avanço na fusão nuclear a frio é alcançado, tenho novo monólogo da Cotovia, sobre a validade de duas afirmações:
"já está tudo inventado";
e (muito pertinente)
"nada é novo debaixo do sol.".
Esclareço de antemão, perdão, de ante-asa que discordo de ambas.
Muitas vezes, demasiadas quanto a mim, me deparei com esta afirmação, ou suas semelhantes em diferentes sítios, com diferentes vozes: "Está tudo inventado" e "nada é novo debaixo do sol".
Quando o arquiteto Kahn projetou o centro de pesquisa, ele imaginou que contribuiria para a melhoria da humanidade. Kahn cria espaços de laboratório espaçosos e desobstruídos, adaptados às necessidades em constante mudança da ciência. Os materiais de construção tinham que ser simples, fortes, duráveis e livres de manutenção o mais possível.
Quanto a "não há nada de novo debaixo do sol" é uma afirmação com 3000 anos, provinda da Biblia, no livro Eclesiastes que se inscreve na corrente de sabedoria, e é atribuído a Salomão, " filho de David, rei de Jerusálem". A reflexão sobre o tema central "A Vida terá Sentido?" , escrito no século III a.C. , revela:
"um pessimismo deste livro que, afinal, se mostra profundamente crítico, lúcido e realista. (...) e o discurso oscila entre a repetição do antigo, a sua negação no presente da experiência quotidiana, e a busca interrogada que ainda não obtém respostas."
Nesse sentido, quanto à afirmação tantas vezes repetida como uma confirmação de que nada é original, remete para a leitura na íntegra ( e íntegra) do texto, para a devida contextualização:
"daí a complexidade do ópusculo, as diversas leituras possíveis e o recurso dos estudiosos a vários autores para explicar a aparente multiplicidade de linhas teológicas".
in Bíblia Sagrada, ed. Soc. S. Paulo, 1993, com prefácio do Secretário da Conferência Episcopal Portuguesa.
Quanto a "Está tudo inventado", quem o terá dito terá sido o Duell, Charles, e o motivo desta sua afirmação, terá sido feita no contexto de uma proposta para o encerramento da secção de registo de novas patentes. Ora não só a sua proposta foi rejeitada, como as patentes continuam a ser uma realidade.
"Para que uma patente possa ser depositada é necessário que o produto ou processo motivo do pedido seja um invento novo, sem similaridade com algo já existente".como podemos ler no site justica.gov.pt/registos : "A patente permite-lhe proteger uma invenção nova, que ainda não tenha sido tornada pública e que não seja óbvia relativamente ao que já foi divulgado",
Esclarecendo de seguida o que significa ser nova (por ter atividade inventiva), e também, daqui se subentende a realidade da perpétua saga inventiva e criativa do ser humano, a diferença entre a patente natural e a de origem na inteligência artificial, sendo que, por enquanto, a inteligência artificial não tem direitos diretos, ou naturais, de patente. No entanto já estivemos mais longe do universo retratado em "2001 uma odisseia no espaço" de Kubrick ( e Arthur C. Clarke) datado do ano de 1968.
HAL-9000: o terror de 2001. (Foto: Reprodução/Metro-Golden-Mayer)
O que me leva ao artigo de Bergson sobre "o esforço da invenção" :
"O escritor que escreve um romance, o autor dramático que cria personagens e situações, o músico que compõe uma sinfonia, o poeta que compõe uma ode, todos têm no espírito, em primeiro lugar, alguma coisa de simples e de abstracto, isto é, de incorpóreo. Para um músico ou para o poeta é uma impressão nova que se procura transformar em sons ou em imagens. Para o romancista ou dramaturgo é uma tese a desenvolver em acontecimentos; um sentimento, individual ou social, a materializar em personagens vivas.
Trabalha-se sobre um esquema do todo, e o resultado é alcançado quando se chega a uma imagem distinta dos elementos. (...)
Portanto, e tal como a entidade que rege as patentes discordou, por motivos que certamente indicou, também eu tenho de discordar de Duell... por motivos que em seguida refiro:
Primeiro, entendo que rejeitar a originalidade é rejeitar a própria existência.
Segundo, é a assunção de já estar tudo vivido.
Terceiro, ( vem aí o hamster...) é assumir que tudo existe ou existiu antes, nada surge de novo, que a partir de um dado ponto seremos, enquanto Humanidade, nada mais do que o hamster que faz girar a máquina de Deus retratado na série da Netflix, "Ninguém Tá olhando".
Netflix, trailer de ‘Ninguém Tá Olhando’, Será mesmo que o Chefe é, apenas, um hamster que só fica correndo para dar “corda” ao maquinário das bolinhas ou existem alguém?
Assim, pelos pontos supra referidos, discordo veementemente, com esta afirmação do "já está tudo inventado".
Além disso, o dado fundamental a provar que não está tudo inventado, é a impossibilidade de terem sido colocadas todas as perguntas, ou estarem dadas todas as respostas. Portanto, enquanto existirem perguntas para fazer, não está tudo inventado, nem saberemos como se apresentará o Mundo, nem a Humanidade, no Futuro.
E sim, vale a pena continuar a fazer perguntas que ainda ninguém formulou, e a encontrar originalidade para criar algo de autenticamente novo e diferente do que existe.
Por outro lado, também não concordo com a afirmação de que toda a obra ou é um roubo ou é uma cópia, e que o segredo está em copiar tão bem que não se perceba a cópia, como se não tivéssemos aprendido a lição pelos nossos próprios meios e estivéssemos num exame a copiar pelo colega da frente ou do lado, e tivéssemos de o fazer com engenho, para o conteúdo ser o mesmo mas com uma forma aparente diversa, para ninguém ser descoberto e anulados ambos os exames, (por isso até para escolher quem se deixa copiar é preciso ser um bom conhecedor do génio humano).
A utilidade deste processo é que me escapa, pois, não apenas confirma a inexistência de conhecimento, como também a futilidade deste mecanismo, que se revela inútil para gerar qualquer coisa criativa original, ao não ter fundamentos, as tais bases essenciais do conhecimento prévio.
A cópia é, ou será em hipótese, útil quando, e, se está em fase de aprendizagem, enquanto que a informação não é absorvida e incorporada. Depois disso é desnecessária e prejudicial, pois impede a descoberta de um estilo próprio, seja de pensamento, seja de expressão, criativos.
A proliferação da cópia é contraproducente porque há perguntas que só existem dentro de cada um.
E é importante que essa particular visão, transposta em perguntas, se torne real, para que quem formula essas perguntas, prossiga para o campo da criação de modo tão intuitivo como respirar, e assuma o risco e a responsabilidade de trazer essa nova realidade ao mundo, transformando-o.
Esse será o verdadeiro problema da originalidade, se for governada pela prudência e pela continuação da formulação das mesmas perguntas seguras, os resultados serão os mesmos, os limites do conhecimento estáticos, inalterados, o mundo pára de girar, e o Hamster nunca será descoberto.
Mais, aquele que sabe, conhece, não precisa que lhe mostrem nada, que lhe revelem os segredos, que lhe expliquem como operar a magia, basta-lhe olhar e compreende e reconhece o funcionamento daquele mundo. Mesmo se isso implicar labutar horas infindas na busca desse conhecimento que intui existir e que ambiciona dominar.
Pela observação do mundo, não só é possível entender o seu funcionamento, a "macchina interna funcionale", como através da reflexão, descobrir os segredos da técnica ou tecnologia e seguir para a frente, tendo como novo ponto de partida o estadio imediatamente anterior, como se fosse uma teia de Ariadne, a aguardar, pacientemente ser meramente finalizada pela intervenção humana.
Criatividade e Potencial Criativo
Ou seja, para o processo de aprendizagem é necessário o acompanhamento para (re)conhecer o Mundo e o conhecimento e adquirir as ferramentas adequadas a cada área, para se iniciar o processo onde se passa das perguntas iniciáticas do "-porque?", para se propor os "-e se...?" e finalizar com o "-como?".
Reconhecemos estas Gigantes Pessoas em Darwin, Montessori, Gaudí, Mozart, Callas, Heinstein, Seymour, Verne, Rego, Duncan, Johnson, Picasso, e não apenas estas 12 magnificas Pessoas, muitas mais.
Não haveria aqui espaço para referir todas aquelas Pessoas que nos fazem sentir Gigantes enquanto Humanidade, e Formigas enquanto Pessoas, pelo reconhecimento da enorme distância que separa o comum mortal do génio intemporal na sua capacidade de propor a pergunta certa, o "-e se... em vez de ser assim fosse de outro modo?"
Encontrar essa pergunta que propõe alternativas, essa pergunta justa, no sentido de ser a pergunta certa, certeira, correta, adequada, aí reside o propósito, ou missão, para quem pretende ter uma vida criativa, e... quem sabe, genial.
E para vós Pessoas, fica a seguinte pergunta:
O que acham, já estará tudo inventado ou ainda é tempo para originalidade, e a criatividade é inata ou algo passível de ser desenvolvido?
Boas reflexões, boa semana, Pessoas!