Quem não...
Cotovia@mafalda.carmona
- (1)...tem cão caça com gato, é o que diz o ditado, e se bem que não vos venha falar de caça, senão aos gambozinos, eventualmente, estou aqui para falar de uma espécie híbrida de gatos-cães e de cães-gatos...
Sempre convivi com os cães e gatos.
Por hábito, e por verdadeiras provas de amizade e lealdade, refiro estes peludos, com imenso orgulho, pois em certas coisas sou muitíssimo convencida, como sendo os "meus" amigos de quatro patas.
Quando a restante família vai de férias, recebo também o amigo Tufão.
O Tufão, ou Tufas, é um coelhinho cinzento cor-de-burro quando foge, e com uma franjinha cómica que lhe dá um ar topetudo. Também ele é amigo, reconhece cada um dos elementos da sua família humana, e tem as suas preferências.
E, ao longo de oito anos de convivência o Tufão sabe perfeitamente quem somos.
Ora estes amigos lá conseguiram entre si desenvolver estas diferentes amizades, de cães, gatos e coelho, e conviver em paz e pela sua longeva idade, podemos aferir que não devem sofrer de stress inter-espécies.
Menos com a minha espécie de Cotovia sem noção quando resolvo começar em cantoria terrifica, pois isso, pelo meu desafinar e qualidade vocal do piorio, enerva qualquer um, e até serei um elemento dissuasor para quaisquer tentativas alienígenas de invasão, já estivemos a combinar isso e decidimos que nesse caso avançarei eu para impedir a desgraça invasiva, e prescindimos dos nossos kits de sobrevivência pós-aliens, que considerarão o ambiente terrestre demasiado hostil para aqui permanecerem mais do que uns breves quantuns.
No entanto, os aliens serão apressados, ou precipitados, na sua retirada, pois teriam muito a aprender com os gatos, cães, gatos-cães e cães-gatos, isso é uma certeza.
Se tivesse oportunidade de falar com os aliens, em primeiro lugar iria desfazer uns quantos mitos:
Os gatos não são traiçoeiros, os cães não são agressivos.
Agora há uns quantos factos, caros aliens:
Os gatos não gostam de ser importunados, gostam de estar sossegados lá na vida deles.
Nunca reconhecem donos só porque sim mas porque lhes apetece, e aprendem muitas habilidades apenas porque gostam de se divertir, não para fazer favor nenhum aos terráqueos. Podem facilmente, se bem tratados, adaptar-se a novas famílias humanas, e até trocar de quintal se lhes cheirar que ali existe alguma vantagem, no entanto existem relatos de gatos perdidos que conseguem regressar ao lar mesmo decorrido imenso tempo.
Portanto, são os gatos que escolhem as "suas" Pessoas.
Quanto aos cães, tem genericamente uma enorme vontade de agradar, por isso são facilmente domesticados e apegam-se a esse humano para a vida, independente do carácter dessa referência humana, sendo por isso mais susceptíveis aos maus tratos, a serem traumatizados e tornarem-se medrosos e anti-sociais.
Assim, são as Pessoas que escolhem os seus cães.
Quando adoptados, os cães ficam cativos dessa referência humana, seja lá o modo como forem tratados, o que constitui uma crueldade que vós aliens não encontram naqueles dois discos, folheados a ouro, que enviamos com as Voyager a explicar como somos humanos fantásticos.
Daqui podem concluir que os gatos partilham com os humanos as características de simpatia ou antipatia, e os cães a se empatia ou agressividade, conforme as influências humanas.
Aqui chegamos aos cães-gatos e aos gatos-cães, que são aqueles que sendo cães ou gatos adoptam além das características positivas dos da sua espécie, também as características positivas do cão ou gato.
Assim temos gatos que gostam de agradar e interagir para além da simpatia tornando-se empáticos, salvam pessoas chamando o 112, imaginem, mas sempre resguardando a sua esfera de segurança e liberdade, e cães que são menos susceptíveis a querer agradar e portanto mais livres e capazes de ignorar as suas referências humanas se estas não lhes agradarem.
Como referi, senhores aliens, têm muito a aprender com estes nossos amigos peludos de quatro patas...
Muitas coisas que nós humanos insistimos em ignorar, esconder, omitir ou menosprezar, mas que se espelham nestes nossos amigos.
(1) e (2) fotografias de Mafalda Carmona