Ser... abecedário...#3
Cotovia@mafalda.carmona
- (3)...ou, em vez de hoje seguir com o desafio dos pares de palavras iniciadas pela mesma letra, aqui fica um poema com as letras todas do abecedário, com a autorização da autora, a querida poetisa Maria João Brito de Sousa do blog poetaporkedeusker que, como sempre, nos encanta com palavras que voam em poesia.
No blogue poetaporkedeusker podem encontrar um novo poema todos os dias, é caso para dizer, "um poema por dia, não sabe o bem que lhe fazia", mas neste caso, sabemos, bem, o bem que nos faz, e é uma alegria.
É também com grande alegria que agradeço à Mª. João por ter concordado com esta partilha extraordinária aqui no pequeno canto da Cotovia, muito obrigada Maria João Brito de Sousa!
Para ilustrar o poema, a fotografia (3) é de um desenho do meu neto, um auto-retrato, que me pareceu muitissimo adequado para acompanhar este poema da poetisa Maria João Brito de Sousa, de título, "Abre os Braços à Vida".
A todas vós, Pessoas, outras aves, seja Cotovias, Corvos, Guarda-Rios, e também Aliens, entre outras, ou seja todas, todas, todas, vos desejo uma boa semana, muita Saúde e Paz.
E... Viva a Poesia!
Abre os Braços à Vida
*
Abre os braços à vida, besta louca,
Besta da forte chama que arde em mim,
Concede-me mais tempo antes do fim
Daquilo que sei ser: humana e pouca!
*
Devolve-me a revolta em mar convulso,
Envolve-me em calor, em força ardente,
Firma na minha mão, neste meu pulso,
Glórias vindas dum doce antigamente!
*
Hera, não mais serei, evoco Marte,
Irei buscar Neptuno às profundezas,
Já que a Terra ameaça em toda a parte,
Kafkiana de inocência e de certezas...
*
Lacónico, este chão que piso e que amo,
Mede-me cada passo que não dei,
Nenhum tempo concede o que reclamo,
Oprime repetir-me o que já sei...
*
Passado não me falta. Só futuro.
Qual futuro?, pergunta-me a razão
Rindo de mim no nada em que procuro
Sombras de mim na antiga dimensão...
*
Tomba um entardecer como os demais,
Urdo, eu, um novo sonho amanhecendo,
Vibra ainda uma corda, um eco, uns ais
Wagnerianos, dóceis no crescendo,
*
Xaroposos, venais, enjoativos...
Yolo!,* grita-me o mar ao descobrir-me,
Zero!, mostra-me a Terra, que é dos vivos.
*
Maria João Brito de Sousa
04.03.2020 – 14.29h