Invisíveis
Cotovia@mafalda.carmona
Traços Invisíveis
Claro que já tiveram aquela sensação
De que o mundo lá fora é uma máquina,
a rodar sem descanso, um centímetro além
da vidraça onde a chuva se estilhaça.
Viver no ruído ensurdecedor, ou pior:
na solidão da dor.
Dita em francês, a palavra dói menos. Soa melhor.
Veste-se de ouro, silêncio polido,
dourado, perfumado, tecido
com a gravidade tácita
da conveniência.
Conivência.
Palavras feias, diriam as boas maneiras.
Mas quem lucra com esse pacto perfeito,
com a arte discreta do elogio amestrado,
sob o qual tantos se abrigam—
e se dobram,
de joelhos,
ao beija-mão.
E ninguém viu?
Ou ninguém quis ver?
Mas estava à vista. O peso. A fenda. O aviso.
O cansaço, moldado a ferro,
sob uma engrenagem que rodou até partir.
E a máquina segue, em amarelo faiscante,
atravessa a praça pública,
onde os que caem são apenas carvão e fumo,
a desenhar nos que ficam,
a impotência dos que amam.
Invisíveis.
@mafalda.carmona
28.02.2025
P.S. Todos os dias nascemos, todos os dias morremos. Nuns dias mais do que noutros.