Solitude
Cotovia@mafalda.carmona
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Texto:
Solitude
Estás só quando não queres quem te ama, como estás só quando quem amas não te quer. A má sorte está longe das casas de jogo, está aí, mora nas células que gritam em silêncio que arde no teu peito, quando não queres nem és querido, quando vives na desesperada saudade de quem tiveste então, de quem tanto te quis, e já não podes ter, um coração resgatado numa memória melancólica, que te revolve as entranhas, sem que já vejas a estranheza, porque faz parte de ti essa dor sem abrigo que acolheste na noite mais escura e contigo ficou aconchegada até ao âmago.
Num jogo de amor comprometido, de uma mão perdida, nem sabes se a conheces ou desconheces, se está no passado, se está presente, se virá no futuro, ou se pode ser levada pelo vento, nas cinzas do teu corpo ardente, muitos anos à frente, para crianças que nunca terás nem verás mas de alguma forma a elas chegarás. Com uma palavra, uma ação, lhes mostrarás que sim, nasceste só, morreste só, mas nunca viveste só, tens-te a ti, quem amas, quem amaste, e te ama e amou.
Conhecidas e desconhecidas, pessoas que passam pela tua vida, umas a descoberto, outras noutro universo, e quanto mais pensas nisso mais acreditas, que desde o início, tens do teu lado a dádiva e a gadanha, as mendigas da vida e a da morte, de mãos dadas contigo, nesta hélice genética, em cromossomas, daqui até ao fim, numa solidão de 8 biliões vezes o tempo, és um peixe livre num mar de triliões de km2, ampliado pelos zeros e uns dos mais infinitos quantuns, onde o teu quadrado tem pra lá de 60 km² numa latitude de 11 dimensões. E nesta teoria das cordas, que só tu poderás descobrir, pois neste xadrez, nesta teoria do tudo, feita de membranas que não vês, o mais provável é que exista um espaço, quase invisível, mas perceptível, aquele onde não há dor, e onde cabe o teu amor. No espaço-tempo surreal deste cósmico modulor, és sonhador, salvador e predador.
Chegaste à Terra da Solitude, debaixo do Sol e da Lua,
Esta vida é toda tua.
Poema:
Solitude
Estás só se não quiseres quem te ama,
Como estás só se quem amas não te quer.
A má sorte espreita nas células silenciosas,
E arde no teu peito, quando não mais és querido.
Vives no passado, numa enorme saudade
De quem tanto te quis e tiveste então.
Mas o coração não pode ser resgatado
De uma memória melancólica que te envolve
Até às entranhas sem que já a estranhes.
*
Faz agora parte de ti essa dor sem abrigo,
Que acolheste na noite mais escura
E contigo se aconchegou.
Num jogo de amor comprometido, de uma mão perdida,
Não sabes se a conheces ou desconheces,
Se está no passado, presente ou virá no
futuro,
Nem sabes se pode ser levada pelo vento,
Nas cinzas do teu corpo ardente, anos àfrente.
*
Com uma palavra, uma ação, um fim que é um sim,
Nasceste só, morreste só, mas não viveste só.
Tens-te a ti, quem amas, quem amaste, e te ama ou amou.
*
Conhecidos e desconhecidos, pessoas que passam pela tua vida,
Umas a descoberto, outras noutro universo,
E quanto mais pensas nisso mais acreditas,
Que desde o início, contigo de mãos dadas,
Tens de um lado a dádiva, do outro a gadanha,
Giram contigo as mendigas da vida e da morte,
nesta hélice genética, em cromossomas,
daqui até ao fim, numa solidão de 8 biliões vezes o tempo,
és um peixe livre em triliões de km²,
ampliado pelos zeros e uns dos mais infinitos quantuns.
*
Onde o teu quadrado tem pra lá de 60 km²,
numa surreal latitude de 11 dimensões,
da teoria das cordas que só tu descobrirás.
No infinito xadrez, desta teoria do tudo,
feita de membranas que não vês,
o mais provável é que exista um espaço,
Quase invisível, mas perceptível, muito vago,
É aquele onde não há dor,
e será onde cabe o teu amor.
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Nesse espaço-tempo onde és amante, sonhador, salvador e predador,
Eis que chegaste à terra da Solitude, debaixo do Sol e da Lua.
Esta vida é toda tua.
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Mafalda Carmona 29/04/2023
* Fotografia de Mafalda Carmona, "Solitude" praia fluvial do Alqueva, Monsaraz, 25/04/2023
P.S. Este texto foi escrito na sequência da leitura da Coroa de Sonetos dos sonetistas Mª. João Brito de Sousa e Custódio Montes, no blogue poetaporkedeusker.
Do texto resultou também a versão em poesia livre, e idealmente irei, com mais tempo e assim me ajude a Musa da Poesia, escrever um soneto sobre este mesmo tema. Por agora aqui ficam as versões em texto e poesia neste surpreendente último sábado do mês de abril de 2023.