Viagem por Mim
{Poema livre}
Mulheres e homens, tantas as viagens,
pessoas inteiras, mentes inquietas,
nelas me achei, por elas me reencontrei,
não vão sós, nem estão desacompanhadas.
O troar do galo abre a manhã ingénua,
pano de verão que cai pelas colinas,
vai até ao balão de Paris olímpica,
é vila cidade de jogos perpétuos.
Por Veneza nadam arranha-céus, deitados,
cruzeiros refletem estranhas miragens.
Catedrais discretas, secretas figuras,
povoam lagunas, guardam passagens.
Desde as ilhas a sul, até à Islândia
saltimbancos das águas e oceanos,
em vôo de Bijagós, vogam nas paisagens,
irão aventurar-se, e, talvez, enamorar-se.
Cantam belugas brancas no mar de Nunavut,
por entre a tundra, sons pintados em glória.
Nas ruas das cidades da Venezuela,
secam mudas raízes com fome de história.
Por todo o lado gente desprotegida,
escombros de jovens vidas derruídas.
Do oeste ao oriente, esmorecem continentes,
foge a paz no desespero das memórias.
Há ainda esperança no imponderável,
mãos que se amparam no intervalo do medo,
um toque de fé, ténue luz nas ruínas,
e amanhece a vontade por mais um dia.
Cardumes de palavras no mar do Cabo,
correm por mim tantas vozes em poesia.
No azul mediterrâneo, crianças,
vêm nas marés, são ondas desfeitas.
Quem me dera sabê-las no meu quintal,
no pequeno rectângulo de Portugal.
Investidas de um sabor tão especial,
temperadas de vento, bravura e sal.
Seria bom viver em serenidade,
encontrar um lugar dentro do respirar
das pessoas de incomum sensibilidade,
que, em mim, felizes, estão em viagem.
@mafalda.carmona 28.07.2024
Este poema foi escrito como resposta ao desafio de segunda-feira da @ofeliaempoesia , com inspiração e, ou, influência do poema de Mia Couto, Carta, in Raiz de Orvalho e Outros Poemas -Ed. Caminho Grupo Leya-, e na escrita de Gonçalo Cadilhe, in Um Lugar Dentro de Nós, Ed. Clube do Autor, e no poema de Andreia C. Faria, Tenho Inveja do Vulcão:
Tenho inveja do vulcão
Tungurahua, Etna, Vesúvio
são nomes de perfeita percussão
Mesmo o Stromboli, com seu
nome de palhaço feliz,
deu ao cinema um ombro agreste
para contracenar com Deus
Dickinson, que nunca viu um vulcão
(bastava-lhe não ter visto uma catedral),
ficava em seus degraus e trazia-o
pela mente até à cerca do quintal
As fúrias do vulcão são amadas
por quem ele despe e desfeita
(A lava, crêem, é a pura língua
do diabo que beija o sovaco)
Também eu, ao chegar a casa, resmungo
para o ar, e no escuro a minha boca
escuta a sezão das estrelas
Mas a mim ninguém me ama
Como um prometeu incapaz do fogo,
sóbrio sísifo subo a encosta
e escrevo tensos versos que coxeiam
"Não são as pessoas que fazem as viagens, mas sim as viagens que fazem as pessoas." John Steinbeck
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