Do nascimento de Jesus e do espírito do Natal.
- Olá Pessoas! Começamos a estar cada vez mais próximos do Natal e das festas desta época, altura de renovação na fé da bondade e da entreajuda, também da esperança.
Imagem: reprodução do de uma ilustração de Maria Keil> para a 1ª edição > de A Noite de Natal , de Sophia de Mello Breyner Andresen, em 1959. in Calendário Ilustrado 2008 >, da Associação para a Promoção Cultural da Criança ( APCC )
Neste tempo, e até ao dia de Reis, o espírito do Natal mora dentro de cada um de nós, e no caso desta Cotovia, é automaticamente associado aos canticos desta altura. Porque se há quem cante e dance com lobos, quem o faça com baleias, quem esteja esteja em andanças e trovas ao sol e a lua, e, porque cada um é livre de fazer da sua vida a dança com a banda sonora que entender, as cantigas desta Cotovia, nesta época, vão buscar à Beira Alta, por onde (m)anda a tradição materna, o canto pastoril d'Ó meu menino Jesus, que se canta na noite de Natal.
Cantiga pastoril de Natal
Para as Pessoas da Companhia da Cotovia e Companhia não será uma novidade que esta criatura (segundo-autor) Cotovia, vá partilhando "nesta coisa onde escrevo" (como as Pessoas da família chamam ao blogue) exactamente essas, várias, "coisas que escrevo".
Desde o comentário de um outro utilizador do espaço do Sapo,Zé Onofre, onde pude ler as Poesias que escreve, fiquei ainda mais convencida da necessidade de comunicarmos uns com os outros.
Só assim percebo, cada vez mais, que, mesmo se as vacas que conheço são como o gato malhado de Jorge Amado, isso não faz com que todas as vacas deste imenso Mundo, sejam malhadas. Ou seja, lá porque não conheço mais de 1% do conhecimento, isso não faz desaparecer, e ainda bem, os outros 99%! Nem desaparecem as Pessoas detentoras desse conhecimento, diferente do meu... ora, senão o comunicarem, serão livros perdidos da Biblioteca de Alexandria: não existem!
Também percebi que estas Poesias estavam trancadas e relegadas ao esquecimento numa gaveta, e, senão fosse a despróposito de umas obras em casa, nunca o seu propósito chegaria até nós, como diz Zé Onofre nas suas Notas à margem:
"Zé Onofre" no Sapo
Assim, perdi eu também a vergonha (como a cegonha de Richard Zimler).
Richard Zimler no Facebook
Em grande afã (o afã é a caracteristica mais premente na Cotovia na presença das descobertas ou achamentos) procurei na cave a mala para onde atirei, ao longo dos anos, folhas de papel todas escrevinhadas, com esboços de poemas e textos.
Rascunhos de textos e poesias da minh'A Mala Esquecida, Mafalda Carmona em A.M.E. Poemas e Textos (PT)
"D'A Mala Esquecida" passaram de rascunho a coisa um pouco mais organizada e vou fazendo umas ilustrações com técnica de colagem digital, para as acompanhar nas publicações.
Como, relativamente ao calendário do advento, a preparação do Natal se inicia no sexto Domingo antes do Natal, podemos considerar que estamos, inequivocamente, na época natalicia!! E, penso que de todas as coisas que podemos escolher fazer, não apenas nesta época, mas especialmente nesta época, é partilhar, sejam os nossos sonhos, defeitos, falhas, receios, alegrias, impaciencias, missões, ideais, enfim, tudo o que somos, pois, ao fazê-lo somos mais do que só mais um, num Todo muito maior, somos, o Todo!
Até porque, na verdade, não precisamos do calendário do advento, nem das chamativas imagens comerciais para tudo e mais três pares de botas, em todos os canais de televisão e das superficies comerciais, nem das iluminações nas ruas, para podermos ter, e exercer, o espírito do Natal, seja nas mensagens, seja na partilha ou pela entreajuda.
E é isto Pessoas. Não deixo aqui a bota de natal, encarnada com pompons brancos de neve e atacadores de cordas de rebuçado, do Santa Claus, mas sim mais um poema:
O Vestido Encarnado
Jorge Amado rima com Gato Malhado,
Em Maestria sem comparação,
Com a escrita desta criatura penada...
Que, infeliz, rima com quase nada,
Senão com a desdita da Conceição:
Do meu galho vejo criança pequenina,
Os pés descalços e vestido encarnado,
Já muito encardido e esburacado.
Que pede à porta com voz de menina:
"Óh S'nhora, por favor, um rebuçado?"
À senhora foge-lhe a voz e o chão,
Pensa no frio, na chuva e na lama,
Perde a coragem para dizer: não!
Pensa para si, como vive esta alma,
Só, nesta desolada situação?
No centro do peito está uma cruz...
Pergunta a figura em aflição:
"Estás sozinha, como te chamas?"
"Óh S'nhora, o meu nome é Co'ceição,
E 'stou com José, Maria e Jesus."
Como é possível este Mundo,
Ser tão desumano, terrível e imundo?
Tão perdido, vão e enlouquecido.
Para quem a gerou perder o tino?
E a tomar por restos de anjo caído?
Quem encarnou nesta criança?
Será possível que alguém,
Senão daqui, alma do Além,
Cuide dela com respeito e afeição?
Sem desdém? Sem desconfiança?
30 anos passaram desde então.
Ainda hoje me lembro desta estória,
Quando os dedos de uma mão,
Fazem soar na madeira da porta,
O esgaravatar da minha memória.
Como o som de crianças a gritar,
Cães a uivar, árvores a desabar,
Ossos a estalar, tiros ao azar.
E também, triste, o som do coração,
Que chora no corpo da Conceição.
Poema e ilustração de Mafalda Carmona, in AME Poesia e Textos (PT)