O Livro...
Cotovia@mafalda.carmona
...convidado ( por empréstimo) de Hoje é...Talvez um Anjo de Filipa Sáragga.
- No noticiário da ontem, porque foi o dia internacional da Criança com cancro, o dia 15 de Fevereiro, numa reportagem acerca da inauguração da exposição no IPO do Porto, "Da imagem à palavra... De que cor é o cancro?" referiram que existem 400 novos casos de crianças com cancro por ano, 80% delas vencem a doença, algumas delas com sequelas para a vida.
Isto significa, não em abstrato, mas em concreto, que 320 crianças sobrevivem, e que as outras 80 crianças são como a Maria, a menina de que fala este livro, um dos meus amigos convidados desta quinzena, "Talvez um Anjo" de Filipa Sáragga.
"Talvez um Anjo " da ilustradora e escritora Filipa Sáragga, 2013, Edições Marcador, capa Bruno Rodrigues/marcador
"Esta é a história de uma criança única com uma força extraordinária, uma criança com uma lucidez espantosa e uma capacidade de amar invulgar. Teve uma vida curta, se avaliarmos pela medida com a qual estamos habituados a olhar o tempo, ou longa, se preferirmos pensar na intensidade de tudo aquilo que viveu em tão pouco tempo."
A exposição no IPO do Porto "As cores do cancro" inaugurada ontem, dia 15 de fevereiro de 2023, dia internacional da Criança com cancro, página do IPO no Facebook aqui.
Assim, sem nenhuma ordem em especial, foi este o primeiro livro que li, num rompante, num misto de espanto e tristeza, numa leitura onde há a partilha de vidas, desde já a da Maria, mas também as da Susana, do Ramon, de outras Marias, do Unsumané, do António e do Afonso, da Rita, do Nuno, do José, da Teresa, da Fabíola, e de Jesus.
Acerca de Jesus, muito haverá para refletir, mas fica fora do âmbito desta leitura, e, por agora, partilho aqui algumas observações que recolhi:
Primeira, a Filipa Sáragga não se assume como escritora.
Permitam-me discordar. Toda a escritora ou escritor é aquela Pessoa que sente a necessidade de contar uma determinada história, real ou ficcional, porque tem a convicção de que aquela história tem de ser contada, é-lhe fundamental passar essa história aos outros, passar uma determinada mensagem, uma mensagem única para quem a irá ler, e que é fundamental para quem a está a escrever.
E é assim que começa a leitura: "Não sou escritora, nem pretendo sê-lo. Vou apenas relatar a história de uma criança única com a qual tive a sorte de me cruzar. Faço-o porque (...) existem vidas que devem ser partilhadas. Vidas que nos ajudam a perceber o propósito da nossa própria existência."
Acrescenta: "À medida que fui escrevendo este livro e pintando as telas, experimentei sentimentos contraditórios.
"Algumas vezes, por não me sentir merecedora de transmitir a história da Maria, pensei em desistir."
Tendo como fundamento esta intenção, a Filipa, embora a sua modéstia a determine, é escritora, sim.
No primeiro capítulo, intitulado "Talvez fosse um anjo", refere:
"Em geral nós pessoas comuns, temos dificuldade em aceitar quem, de alguma forma, nos incomoda, nos ofende (...) seja este o maior obstáculo: amar os que não devolvem o nosso amor, amar (...) independentemente das convicções (...), das imperfeições."
E indica que o conteúdo livro serão os episódios da vida da Maria que vai contar, acompanhados das suas ilustrações (Filipa Sáragga).
"Lembro-me de quando me via a pintar e também me pedia tintas. Aquilo que mais gostava era de adivinhar o que estava nas minhas telas mais abstratas: vislumbrava sempre animais. E gritava:" Madrinha, encontrei um pássaro!"
Ilustração da artista e escritora Filipa Sápatta, pag. 32 e 33, da obra "Talvez um Anjo" da editora Marcador www.marcador.pt
Termina o livro, e termino eu esta partilha do meu amigo livro "Talvez um Anjo", com uma citação do texto da escritora Laurinda Alves:
"A impotência que experimentamos perante este sofrimento é inexprimível. Jamais conseguiremos traduzir por palavras o que nos vai no coração, mas mais importante do que medir a devastação é falar da exaltação. (...) Esta substância da exaltação de que falo descobre-se na capacidade de superação. (...)"