Patos Furiosos...
Cotovia@mafalda.carmona
- (1)... não é, afinal, o título da rúbrica de televisão transmitida em horário adequado para as mini Pessoas, mas sim "Factos curiosos", que, devido à nova grafia dada pelo A.O., que se reflecte na sonoridade sem o "c", os "fáquetos", se tornam "fátos", e, para esta Cotovia com ouvido difícil, assim se transformaram rapidamente em "Patos furiosos", talvez também pela proximidade de espécie entre aves, o processamento linguístico algures perdido entre outros milhares de processos, ou serão milhões, achou mais adequada a imagem de patos furiosos, do que patos curiosos, já se estivéssemos a falar de gatos, talvez os curiosos de mantivessem... Isto tudo para chegar ao ponto em que elaborei a seguinte frase, que aliás teve a génese numa resposta ao Sr. F., e que é a seguinte:
*"Não interessa o que somos nem o que fazemos, o que importa é o que acham que somos e fazemos... ou fizemos."
Mais, acrescento, o contexto é determinante, e por isso o Sr. F. concordou quando a sua conhecida e amiga de convivência esporádica, na mesa do café onde se cruzam quando vão buscar o jornal, com toda a certeza do mundo, lhe disse:
"-Belo passeio ontem Sr. F., foi passeio até tarde, já passava da hora de jantar quando regressou!"
"- Ah pois foi pois foi... Foi um grande passeio."
Na verdade o passeio foi um exame, que passou a consulta, que passou a esperar para o final da tarde para uma intervenção cirúrgica de urgência destinada a trocar "as pilhas", "-Aqui.", indicou o Sr. F., com um gesto largo à altura do peito, do lado esquerdo, como se estivesse a cortar um grande atum.
Ao que lhe digo"- Já viu Sr. F.?! Que grande passeio? Para vermos que... E lá atiro a minha frase, ali a supra* ao que o Sr. F. sorrindo satisfeitíssimo como se estivesse a fazer uma marotice, confirma:
"-É verdade, não interessa nada, mas também não a vou esclarecer..." diz enquanto encolhe discretamente os ombros, num gesto quase despercebido, antes de prosseguir:
"- O que importa é que agora já está feito, a máquina tem pilha para mais uns anos, vamos ver se desta vez cicatriza em condições, que da outra vez foi difícil."
Mais uma vez o contexto é determinante quando me refiro a dificuldades, as auditivas, minhas, ou do atum imaginário que o Sr. F. tem no peito, para falar de peixes, mas agora não do atum, mas da "Eloquência da Sardinha", um livro de Bill François, da editora Quetzal, com sub-título " Como os peixes falam connosco desde o fundo do mar"... Ou ainda abrindo o livro, este senhor Bill deve ser como a Cotovia, cheio de vários "ou"...ou "Histórias extraordinárias do mundo submarino."
(2) E, como é normal quando olho para um livro pela primeira vez, de um autor que não conheço, e a breve descrição na orelha não satisfaz a minha curiosidade, vou procurar informações complementares, e encontrei-as, adequadamente, no fim do livro:
"Sobre o Autor - Bill François" aqui pude perceber que é um autor jovem, terá por volta de 30 anos de idade, francês, e que completou o "doutoramento sobre a dinâmica dos fluidos aplicada ao movimento de cardumes de peixes, na Escola Superior de Física e química Industriais, em Paris."
(3) Além disso também se esclarecem as motivações para a publicação desta história:
"a paixão pelo mar (...) A sua proposta é a de escutar o misterioso silêncio do fundo dos oceanos ("desvendar o som do mar") para descobrir a linguagem, os rituais e as formas de comunicação das espécies que nadam, flutuam e dançam sob as águas (...)"
E podem ler o texto desta apresentação, assim como o "Sobre a Tradutora" Sandra Silva nas imagens partilhadas em (3) e (4).
(4) Aquilo que pelo contexto e temática do livro não esperava encontrar, além dos factos curiosos (aqui designação bem aplicada, ou, contextualizada) sobre a fonte dos caracteres, "da família Caslon, inspirados na tradição barroca holandesa do século XVII e originalmente desenhados, em 1722, pelo tipógrafo e gravador inglês William Caslon (1692-1766)" foi um pedaço de céu, ou antes, mar poético, que aqui vos deixo, pois deixou-me a matutar na possibilidade de patos furiosos surgirem de factos curiosos, ou qualquer outra surpresa espantosa como esta, em que prosa poética surge de um livro sobre os cardumes de sardinhas, porque, de facto, o Mundo é espantoso!
"Começamos por vislumbrar apenas uns clarões furtivos de luz que roubam raios efémeros ao sol.
Mesmo nos cardumes numerosos e compactos, as sardinhas sabem tornar-se invisíveis.
Os seus dorsos são azuis como o mar: ninguém consegue, por isso, vê-las de cima.
Observadas por baixo, os seus ventres nacarados desaparecem sob a luz do sol.
De lado, os seus flancos transformam-se em espelhos."
(5) a (1) fotografias de excertos do conteúdo, e capa do livro "A Eloquência da Sardinha " de Bill François, editora Quetzal.
E, como não resisto, deixo-vos um pouco mais de eloquência da sardinha, ou, como o entendi, de poesia, de um excerto da página 11 deste livro, com o desejo de que apanhem boleia para o destino da felicidade e alegria neste imenso mundo cheio de possibilidades. Excelente quarta-feira, Pessoas! Dia muito feliz!
"Delicadamente, apanhei-a com o meu camaroeiro e contemplei, incrédulo, este espantoso presente do mar que rodopiava na água do meu balde de plástico. A sardinha fitou-me com os seus olhos brancos e pretos, como se quisesse dizer-me alguma coisa. Tive a sensação de que, por trás daquele silêncio, tinha segredos a revelar-me, sobre a sua vida no mundo azul onde não temos pé, sobre o seu estranho quotidiano de sardinha. (...) Subitamente, as águas profundas deixaram de meter-me medo; senti-me fascinado pelos seus segredos mudos."