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{Cotovia} e Companhia

Olá Pessoas! Bem-vindas ao blogue da Cotovia onde (m)ando {cotovia}ando! Sigam a cor deste vôo: "Nascemos poetas, só é preciso lembrá-lo. Saber é quase tudo. Sentir é o Mundo." @mafalda.carmona

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{Cotovia} e Companhia

27
Set23

Nasceste


Cotovia@mafalda.carmona

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"Não te deixes conformar-te se nasceste para destacar-te" #ACCIóN POéTICA

 

  • Olá Pessoas! Tenho referido algumas vezes a existência de uns dizeres nas paredes e muros por aqui nas redondezas do ninho, assinadas por um tal movimento #acción poética.

Pois fui averiguar e descobri que nasceu no México, no século passado, em 1996, e passados todos estes anos levou a sua presença além do México, ao nosso continente, em países como a Áustria, Suíça, Irlanda, Espanha, Itália e Portugal, claro!
Aqui chegou a Santana, uma localidade perto da "Ilha" da Cotovia.

 

Assim, andava esta Cotovia, cotoviando por aí, quando me deparei com o movimento nesta frase que partilho hoje "Não te deixes conformar-te se nasceste para destacar-te", escrito num muro que enquadra uma paragem de autocarro. Fiz uma colagem usando uma foto da @_carmona.ph_ e a frase da Acción Poética para reinterpretar ao modo da Cotovia a mensagem do inconformismo.

Este movimento de Acção Poética tem como objectivos promover a presença da Poesia no quotidiano e o seu uso como forma de intervenção urbana. Eu adorei, e vocês?

Também esta semana estive em Benfica, no Palácio Baldaya, na Biblioteca, e de lá trouxe uma citação de José Saramago, que está inscrita na parede da sala de leitura de adultos.

Espero que gostem desta partilha, continuação de boa semana, a primeira deste Outono!

 

@mafalda.carmona
@_carmona.ph_
@accionpoeticafrases

#poesia
#movimento
#intervenção
#inconformismo

28
Jun23

"Na Ilha...


Cotovia@mafalda.carmona

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...Por Vezes Habitada.

 

Na ilha por vezes habitada do que somos, há

   noites, manhãs e madrugadas em que não

   precisamos de morrer.

Então sabemos tudo do que foi e será.

O mundo aparece explicado definitivamente

   e entra em nós uma grande serenidade,

   e dizem-se as palavras que a significam.

Levantamos um punhado de terra e apertamo-la

   nas mãos.

   Com doçura.

Aí se contém toda a verdade suportável:

   o contorno, a verdade, os limites.

Podemos então dizer que somos livres, com

   a paz e o sorriso de quem se reconhece

   e viajou à roda do mundo infatigável, porque

   mordeu a alma até aos ossos dela.

Libertemos devagar a terra onde acontecem

   milagres como a água, a pedra e a raiz.

Cada um de nós é por enquanto vida.

Isso nos baste.

 

De Provavelmente Alegria

José Saramago 

20
Set22

A culinária das emoções...


Cotovia@mafalda.carmona

E a lagosta...ou como entrar na realeza pela porta da cozinha.

  • Lagosta lembra-me África, bistrot parisiense e América, calor, festejos de ano novo, prisioneiros de Alcatraz, bingo, Gaudí e Barceloneta, viagens e, além disso, quando esta senhora entra na minha cozinha, sinto-me parente da realeza, numa versão simplificada em modo "do it yourself", sem a pompa, circunstância ou sacrifícios reais e protocolares de dever, ser e parecer Rainha.

Still-Life_with_Lobster_and_Nautilus_Cup_1634

Still-Life with Lobster and Nautilus Cup 1634 Jan Davidszoon de Heem


Fui apresentada à Sra. Lagosta, mais coisa menos coisa, no ano de 1970 ou 1971 (esta informação do tempo das ocorrências confirma a incorrigível e inevitável referência a datas nos meus relatos), e, sem dúvida alguma, correu... mal. Segundo diz quem viu, apanhei um valente susto e ganhei asas para alcançar a última prateleira da despensa numa escalada espectacular em rapidez e talento desconhecido até então. Proeza inédita e irrepetível pois, hoje em dia, inclusivamente, tenho vertigens se subo a mais de um metro de altura.


O susto de ver a Sra Lagosta de pinças no ar a bater com a cauda em agitação frenética no chão de mosaicos brancos da cozinha, serviu para justificar a minha total inaptidão para conseguir imaginar, ou concretizar, qualquer interação directa a curto ou médio prazo, mas isso nunca foi sinónimo de desapreço gastronómico, claro está, a distância prudente de todas as fases do processo, excepto a final.

Por isso, a Sra. Lagosta faz parte das minhas memórias, boas e más.

Apresentava-se de modo exótico em ocasiões especiais como resultado da passagem da família por terras da África tropical, sítio, na minha cabeça de criança, para lá do fim do mundo. E lá, era fácil de a encontrar, quer para a levar para casa, como para a eleger no menu de um restaurante ou esplanada da capital, enquanto saudosamente era amiúde desvalorizada em detrimento de inalcançáveis outros ausentes, a provocarem suspiros e lágrimas de verdadeira comoção.


Noutro continente, no novo mundo, nos actuais United States of América, inesperadamente, é igualmente muito comum encontrar a Sra. Lagosta nos restaurantes de São Francisco como ex-líbris na zona do Fishersman Wharf, onde podemos, tal como os ruidosos leões-marinhos no cais 39,  olhar para a ilha de Alcatraz. A famosa ilha é pano de fundo para a maioria das salas de todos os restaurantes, ex-prisão onde os reclusos podiam contar com a presença assídua da Sra. Lagosta, e hoje em dia é visita turística obrigatória  para aventuras  menos perigosas das do tempo de Bonnie e Clyde, com a possibilidade de esbarramos com uma estrela Hollywoodesca, provavelmente incógnita.

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São Francisco, Pier 39


Mudando outra vez de continente, na festiva Paris, pela passagem de ano, não há nenhum bistrot onde não apareça acompanhada de champanhe, para a despedida do velho ano e condignamente receber, em grande estilo, o novo. Atenção, fora do réveillon e datas marcantes, alguns dom Juans e donas Juanitas fazem exactamente o mesmo ritual quando pretendem trocar a antiga companhia por uma nova, por isso desconfiem de aparições extemporâneas e injustificadas da Sra. Lagosta na vossa vida, não vá dar-se o caso de ser uma despedida em lugar de uma comemoração.


Aqui mesmo ao lado, os nossos vizinhos, com os quais temos uma relação algo agridoce (ocorreu-me agora que também deve ser possível esta variação da lagosta), apreciam-na em restaurantes com esplanada, perto de salas de bingo, onde os vencedores do cartão vão festejar a boa-sorte, e acalmar os calores provocados pela atividade exaustiva de verificar os números nas linhas e o preenchimento, ou não, do cartão ou até vários cartões, na minha perspectiva uma verdadeira proeza, com um fresquíssimo cocktail de lagosta com caviar e um espumante gelado nas noites quentes do mediterrâneo.


Gostam tanto deste crustáceo ao ponto de, na orla da praia Barceloneta, entre o Passeio Isabel II e o Passeio de Colom, encontrarmos a escultura divertida de uma lagosta gigante sorridente.

Embora o sorriso maroto do alto dos seus 10 metros seja réstia de quando chamava os clientes para um antigo restaurante, agora fechado, foi adquirida pelo município para continuar a fazer a alegria dos turistas mais pequenos que ficam encantados em se fotografar ao seu lado.


Na obra maior de Gaudí, apesar de, segundo consta, se ter inspirado em florestas, sinceramente, achei que nos presenteia com um passeio por baixo duma enorme barriga de lagosta com as suas inúmeras patas a sustentarem o tecto da Sagrada Família, num plano contrapicado de efeitos luminosos a remeterem-nos para as nuances do fundo do mar, mas pode ser só impressão minha, em virtude de ver animismos e analogias animais em todos os sítios.

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Igreja Sagrada Familia ( fotografia de Mafalda Carmona)


E aqui estou eu, na Cotovia, nesta freguesia, a do Castelo de Sesimbra, terra de bom peixe e marisco, de cultura pexita onde até a estátua de D. Sancho tem cara de peixe e pelos desenhados no peito.

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https://www.got2globe.com/editorial/sesimbra-vila-praia-portugal/

Portanto, é facil de perceber que numa envolvente como esta, não tive muita dificuldade, em após algum treino com camarões e gambas, fazer as pazes com a intimidante Sra. Lagosta.

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caril de camarão, fonte fotografia: https://ascoisasdamaesofia.blogspot.com/

Posso agora transmitir o processo herdado pelo lado materno que é, com a minha interpretação criativa, fruto de esquecimento, q.b. de necessidade em preencher lacunas e muita vontade de reproduzir os sabores, um híbrido de caril de lagosta e qualquer outra coisa indefinida que não vos consigo dizer o que é.


Posso, no entanto, dizer-vos qual  "O Segredo" para lidar com qualquer Lagosta:

Seja "à americana" ou "Park Avenue", com açorda, com açafrão, feijão, massa, gratinada, suada, à Java, ensopada, na cataplana, onde e como for, o segredo é apenas um (e ninguém o diria pela extensão deste post):

Estarmos atentos ao tempero de modo a contrariar a tendência da Sra. Lagosta para ser demasiado adocicada e enjoativa, pois convenhamos isso não agrada a ninguém. Em parte a culpa não é dela, mas sim da sua roupagem, pois se a casca for mais fina o interior é mais doce, se for mais dura é mais rija e mais salgada.


Neste aspecto, esta senhora lembra os temperamentos demasiado glico-doces e melosos a assustar qualquer uma (ou um).

Surgem em competição renhida com as alturas e os buracos no orçamento, sendo estes últimos menos assustadores pela perspectiva, embora remota, de sofrerem alguma alteração no seu estado, enquanto os glico-doces só tendem a piorar. Isto na minha opinião, claro, pois para mim, esperar tal mudança seria tão absurdo como nascerem penas aos jacarés e perderem as filas de dentes todas para passarem a chilrear, e ser obrigada a trata-los por primos. Certamente nem eu, nem nenhuma de vocês, pessoas, acredita nessa possibilidade.


Mas podem acreditar no seguinte: pelo valor económico envolvido e elevado grau de dificuldade, esta aventura culinária é excelente para cultivar a auto-estima e para darem tudo para homenagear a Sra. Lagosta e o seu local de origem, o mar.


Assim, passo a descrever os passos do processo:


Primeiro, como disse, é necessário imbuirmo-nos do espírito selvagem de um kamizaki gastronómico.

Sem medo, trazer a Sra. Lagosta (ou Sras. Lagostas) para a cozinha. Em Santana há uma casa especializada na venda de marisco fresco e cozido, mas, por aqui, existem mais possibilidades de as encontrar. Seja como for, façam uma cesta exótica e passeiem-se com ela de modo exibicionista na superfície comercial da vossa eleição, e como se não houvesse amanhã vão incluindo, além das óbvias lagostas, os seguintes itens:


gambas ou camarões/ salsa e coentros frescos/ cabeças de alho/ chalotas/ pimentos pequenos coloridos (são levemente aromáticos, extremamente vivazes, menos rústicos e dão sobriedade ao tempero)/caril/ tomate maduro/ leite de côco ou natas para cozinhar/ laranjas/ manga/ abacaxi/ limão, vinho branco ou vinagre de cidra, e vinho da madeira (ou Porto, Brandy, aguardente, conhaque ou Jeropiga), além do sal e pimenta 5 grãos.


As quantidades serão as proporcionais ao número de lagostas e ao gosto de cada um.

A ideia base é equilibrar os doces com os salgados e os ácidos, mais ou menos como nos acontece na vida de todos os dias.

Com emoção sigam em frente minhas pessoas, a esta altura já em sintonia com este processo de publicação de posts, a um ritmo muito próprio, como podem constatar em primeira mão, lento.


Pelo contrário, este processo da lagosta, até é rápido, depois de ultrapassada a fase da "mise en place".
Este procedimento, imprescindível em todo o processo culinário digno desse nome, foi vastamente explicado em vários programas gravados e exibidos no nosso país, de tendência selvática, relativos a mestres Cuca - ou master chefs- onde um pequeno grupo voluntário de concorrentes pré seleccionados entre centenas de esperançosos candidatos, a fazer inveja à série da Netflix 3%, segundo critérios igualmente misteriosos e ocultos à primeira vista, se debatem em sucedâneos modernos das arenas romanas, a gritos de chefs com personalidade de César Augusto, com excepção do formato original, já um clássico, made in Austrália onde o fairplay impera, e os jurados, concorrentes e convidados são educados, cordiais e evoluídos.


Aliás, como hábito, estava distraída, e apenas me apercebi da estreia da nova temporada australiana (a 14a) esta semana e estou top entusiasmada porque além de ser uma feliz coincidência poderei ver de rajada os primeiros episódios. Tal como nesse programa, é recomendável ler este post, e antes de começar a cozinhar e anotar mentalmente o mais importante da receita propriamente dita para não se perderem nas minhas considerações pessoais.

Basicamente é para disporem na bancada da cozinha os ingredientes já preparados para acrescentar quando necessário, enquanto sentem como são sortudos por poderem experimentar o processo na paz e sossego dos vossos espaços privados dedicados à preparação de refeições, a vulgar cozinha doméstica, onde a ausência de critica, pressão e luta pela sobrevivência, permitem apreciar o momento em condições, portanto, aproveitem para gozar esta total impunidade real.

mise en place aplicada ao trabalho, artigo

Mise en place aplicada ao trabalho e negócios, artigo (EN).

Agora, uma coisa hiper-importante na preparação, por favor, não decapitem a Sra. Lagosta.

Como no xadrez, podem fazer isso aos peões, neste caso os camarões ou gambas, e sacrifiquem a estética com eles mas salvem a rainha. Aliás, multipliquem-na dividindo-a ao meio no sentido longitudinal, façam-no de forma decidida como se estivessem habituados a isso desde que nasceram. Se acharem mais prudente solicitem que o façam por vocês quando ainda estiverem na superfície comercial, caso contrário sejam previdentes e aviem-se de um instrumento cortante, tipo cutelo, se não o tiverem em casa.

Confiem no processo e vejam como ficam bonitas em perfeita simetria dentro das suas cascas.

Além disso, separem as pinças principais e pernas, todos os 10 pares, para as colocarem numa tábua onde possam, com a ajuda de instrumentos apropriados, retirar a casca sem desfazer o interior que deve ser reservado junto dos camarões ou gambas descascados e, esses sim sem cascas nem cabeças. As cabeças, irão ser refogadas em azeite e alho e depois de juntarem vinho branco, as chalotas e parte do tomate, tapem a wook ou frigideira para cozerem. Este molho é para ser esmagado e espremido, e o caldo é coado para se aproveitar o suco.


É altura de verificarem se está tudo preparado e disposto na bancada em tigelas ou pratos:

as lagostas divididas ao meio e o interior das pinças e pernas numa tigela e temperadas com alho, azeite, q.b. de sal, pimenta e um pouco de vinho branco, limão ou vinagre, e polvilhadas com o caril, a marinar. O mesmo tratamento para os camarões ou gambas. Num prato, os pimentos coloridos cortados em tiras finas e uniformes e as chalotas cortadas em quartos. Num recipiente os gomos de laranja finos, manga e abacaxi aos cubos. Na trituradora o tomate sem pele nem caroços. Um ramo de salsa, coentros cortados grosseiramente. O leite de côco ou as natas. Numa chávena o suco das cabeças dos camarões. Noutra, sumo de laranja. Na Wook azeite, um cubo de margarina, um pouco de óleo de girassol, uma folha de louro esmagada, alho triturado e caril. Numa panela água para cozer o arroz simples, no meu caso, prefiro o vaporizado, sem goma para contrastar com o molho de caril, mas se o preferirem mais cremoso escolham carolino. Mas também pode ser arroz basmati, agulha, qualquer um é uma boa opção.


A próxima etapa é bastante rápida, por isso, antes de a iniciarem, podem por a mesa e fazer a sangria de champanhe com frutos vermelhos, óptima escolha para acompanhar.

Uma cesta de pão rústico da Azóia, alentejano, de Rio Maior ou semelhante, cortado em fatias não pode faltar.

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fonte fotografia: https://www.publico.pt/2022/05/24/edicoes-publico/reportagem/azoia-faralhao-pao-assunto-serio

 

Com a mesa posta, ponham o tacho com a água para o arroz a aquecer, quando ferver e puserem o arroz e o sal, podem acender o lume da wook, mas também podem usar um tacho, preferencialmente de barro, como preferirem ou de acordo com o número de lagostas. Assim que a margarina e a manteiga derreterem e incorporarem o azeite e o óleo e os alhos começarem a crepitar juntem as tiras de pimento e as tiras das chalotas. Juntem o suco feito com as cabeças, e quando estiver bem quente, coloquem as lagostas viradas para cima na Wook, até as cascas ganharem cor alaranjada, tendo o cuidado de não deixar a carne alourar. Regam-se com a aguardente e puxa-se fogo agitando para que todo o álcool arda. Nesta altura adicionem o suco das cabeças de camarão e deixem levantar fervura para acrescentar um pouco de vinho branco seco aquecido (ou vinho da madeira, brandy, porto, ou mesmo cerveja, enfim o que for mais agradável ao paladar de cada um). Provem o molho, rectifiquem juntando se necessário, sal, pimenta ou caril. Adicionem as tiras das laranjas, o abacaxi, a manga e os camarões ou gambas.   Incorporem a polpa de tomate triturada e coloquem o ramo de salsa atado com um nó no centro do preparado. Tapem e reduzam a intensidade do lume para que coza durante aproximadamente 10 a 15 minutos. Verifiquem a cozedura das lagostas, rectifiquem novamente os temperos depois de provar juntando, se necessário, mais sumo de laranja, caril ou pimenta, retirem o ramo de salsa e juntem o leite de côco ou as natas para culinária. Deixem cozinhar mais uns 5 a 10  minutos em lume brando. Destapem, se for para a mesa na própria Wook ou no tacho polvilhem com os coentros, apaguem o lume e sirvam. Caso queiram por numa terrina ou similar juntem os coentros apenas depois de passarem o cozinhado para esse recipiente.
Sentem-se, sirvam-se do arroz, num copo a sangria de champanhe bem fresca. No final...o pão com molho.


Para satisfação de todas as pessoas seguidoras da Cotovia e Companhia, este prato é, facilmente, metamorfoseado num prato vegetariano.

Para isso basta abolirem as natas, o álcool (ou substituírem-no por um vinho vegan), e pela troca dos mariscos por courgettes cortadas ao meio, cenouras às rodelas e tâmaras às tiras.  Nesse caso as courgettes bem como os outros legumes serão temperados com alho, azeite, vinagre balsâmico e folhas de orégão secas. Descasquem e cortem as courgettes ao meio no sentido longitudinal e levem-nas ao lume numa frigideira para as alourarem rapidamente dos 2 lados e reservem-nas. O processo segue igual mas sem lagosta nem camarões e com mais variedade de legumes, isto é, aquecem numa frigideira ou Wook apenas o azeite e óleo para fritar o alho e o louro com os pimentos coloridos às tiras, as chalotas, cenoura, tâmaras, grão ou lentilhas, brócolos e caril, caldo de legumes (previamente feito ou congelado) ou vinho branco vegan e o ramo de salsa atado num nó. Deixem reduzir um pouco para acrescentarem a laranja, manga e ananás. Retirem o ramo de salsa e adicionem o leite de côco. Deixem cozinhar durante 5 a 10 minutos em lume brando. Coloquem as courgettes pré-fritas e após 10 minutos apaguem o lume. Polvilhem com coentros picados e está pronto a servir com o arroz branco e acompanhem de sumo de frutos vermelhos ou sangria de frutos com o resto do vinho vegan. Será uma alternativa muitíssimo económica em tempo e dinheiro e o resultado igualmente exótico.


Et voilà, espero que tenham apreciado a rentrée da season da Cotovia e Companhia, com esta proposta exótica e versátil com um ar de realeza.

Bon appétit!

P.S.
Este post (entrada, artigo ou crónica ou o que for) tem por um lado uma vertente de aplicação prática para as passagens de ano, assim haja prosperidade e lagostas no mercado. Por outro, é escrito com o objectivo de apresentar um texto prévio para apresentar no curso de Sumayya Usmani "Cookbook Writing: Tell Stories Through Recipes" (Escrita de Livros de Culinária: Conte Histórias Através de Receitas).
Para concluir o curso e obter o certificado digital, apresentarei no projecto final um novo texto, elaborado já com o apoio das matérias abordadas no curso e supostamente deverão existir alterações para acomodar os conhecimentos adquiridos, e comparar os 2 textos com a mesma receita. Aguardarei o resultado com curiosidade, sobretudo na parte do compromisso de terminar o curso a uma velocidade aceitável.

Quanto a vós, também vos sugiro esperar pelo texto final antes de experimentarem a receita, pois esta será, certamente, revista e melhorada.
Para os mais afoitos e confiançudos, dispostos a correr desde já todos os riscos e experimentar a receita, boa sorte!

P.S.#2

Entre a escrita e a publicação avancei um pouco no curso e antevejo algumas alterações, nomeadamente no restringir o protagonismo do Eu, coisa bastante esdrúxula para os objectivos deste blog, pois como tiveram oportunidade de ler no primeiríssimo post, dar primazia às experiências do Outro não é exactamente o objectivo destas escritas. Mas, pelo exposto na introdução do curso, é essencial para alcançar narrativas mais abrangentes. Ora bem, pergunto eu, como posso saber quais as experiências do Outro? No decorrer das unidades do curso espero encontrar resposta para esta e outras perguntas.

P.S. #3

Nas lições iniciais (apresentação e influências) a tarefa proposta, além de redigir este texto inicial, é responder ainda a duas questões colocadas para reflexão:
1a:  Quais são as histórias de comida que quero contar?
2a:  Tem como objectivo contar a história das receitas da sua própria família ou de uma tradição e herança cultural?

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Inspiração e influências (fotografia Mafalda Carmona 


P.S.4

Transcrevo algumas citações para compartilhar convosco as experiências da autora do curso Sumayya Usmani:


-"(...) I believe you can never stop learning and you can never stop achieving what you really want."
-"I learned to cook not from recipes, but vicariously. (...) by watching, hearing and tasting, you learn without realizing. In Urdu, "andaza" means "cooking from your senses".
-"It's about trusting yourself and what you like, recreating the memory of a flavour by taste, touch and feel."


Para saberem mais sobre esta autora podem aceder ao seu canal podcast, ao Instagram e página oficial ou perfil na Domestika: https://www.domestika.org/pt/sumayyausmani 

16
Abr20

Acerca dos bloqueios...


Cotovia@mafalda.carmona

Acerca de coisas criativas, bloqueios, ou porque estamos presos por fios invisíveis...

  • Recebi pelo email a notificação da publicação de nova entrada no Blog da Sara Farinha " Opinião: the Artist's Way - Julia Cameron". Gosto muito de ler o que a Sara escreve, para mais porque me pareceu ser sobre coisas criativas de suma importância, e, por isso segui o link para ler a entrada completa (podem seguir também aqui https://blog.sarafarinha.com/2020/04/09/opiniao-the-artists-way-de-julia-cameron/ ). 

Veio mesmo a calhar porque tenho partilhado na página do Facebook da Cotovia e Companhia alguns links para, durante este tempo de #ficaremcasa, ainda assim podermos fazer alguma coisa que, mesmo por pouco tempo, nos seja útil para gerir os altos níveis de stress, frustração e sobretudo preocupação. E mesmo que de modo empírico, tenho a convicção de que a criatividade é a chave para isso.

Assim, o livro apresentado aborda o tema da criatividade, mesmo que de forma indireta pela voz da Sara F. (até porque, se porventura imaginarmos uma figura de trovadora do século XXI, a Sara F. é uma trovadora "e peras", isto na minha opinião, obviamente a única coisa que figura nos meus posts a não ser que vocês comentem qualquer coisa ali em baixo, e ai a vossa opinião também passará a figurar, claro).

E a Sara cita : 

...este livro será sempre o início de coisas maravilhosas...

E a análise da Sara segue, indicando algumas das ferramentas para a revelação da visão criativa, como as "páginas matinais" e "encontro de artista", até que "aterro" nos Bloqueios Criativos! Sim, com maiúscula pois são mesmo sujeitos em primeira mão de enorme trauma para todas as pessoas que tentam ser criativas!

 

Os verdadeiros "Bloqueios", "Bloqueios" à séria são daqueles em que a criatividade parece ter uma escolta de "coletes amarelos" a representar tudo aquilo que nos limita e que é basicamente a desconfiança. A desconfiança desdobrada em vários coletes amarelos (ou de outra cor, para o caso não é relevante).

Existem assim, para atribuição dos prémios aos mais "desconfiançudos" um pódio de ouro a bronze passando pela medalha prata:
 
A desconfiança, em primeiro lugar, medalha ouro da classificação definitiva para as desconfianças, da nossa capacidade para sermos pessoas criativas;
 
Em segundo lugar, a prata da desconfiança sobre a utilidade da criatividade. Afinal, pergunta a voz da desconfiança, mais alto do que a boa educação recomenda, para que vai isto servir?!;
 
E em terceiro lugar, o bronze vai para a desconfiança sobre a pertinência de dedicarmos, nesta altura em que tantas coisas graves e preocupantes acontecem a ritmo alarmante todas e cada uma das 24 horas de cada dia, dizia eu, de dedicarmos tempo a sermos pessoas criativas.
 
Existem ainda, sem dúvida, muitas outras desconfianças perante este tema, como a pressão social, mas por agora podemos considerar apenas estas como as mais pertinentes por terem chegado tão alto na classificação olímpica das emoções negativas.
 

Ora bem, pela leitura do post, elaboro uma história onde na sequência do bloqueio criativo, a fazer o prometido quando nos preparamos para exercer o direito à nossa criatividade, isto é bloquear, de repente, como num pesadelo, a nossa mente surge na biblioteca da "La Casa de Papel" onde fica refém durante todas as temporadas da série e por tempo indefinido, connosco a tentar uma negociação dificílima para resgatarmos os neurónios criativos, amordaçados e impossibilitados de serem seja o que for, muito menos criativos.

E isto porque, como entendo de seguida, os "Bloqueios" estão relacionados com as chamadas "feridas pessoais", stress pós-traumático, e outros acontecimentos graves e limitantes a funcionar como enormes trincheiras, materializadas em valas praticamente intransponíveis, tão paralisantes que mesmo que fosse possível espreitar para o outro lado, sequer consideraríamos a hipótese de saltar essa trincheira e entrar em campo aberto sob a mira do inimigo, aqui a exposição à opinião e critério "do outro", cuja voz se junta em coro alinhado com a desconfiança.

 

Poderei, assumo, estar bastante influenciada por todo o cenário de guerra em que vivemos atualmente e por isso esta odisseia em cenário bélico relacionada com os bloqueios.

Mas esta imagem parece-me bastante adequada para descrever não só os bloqueios, como a atual situação em que a guerra diária é continuar a cumprir e #ficar (mesmo) emcasa, apesar das saudades, apesar das datas festivas que continuam a correr no calendário pois o tempo não faz quarentena, apesar das preocupações com a saúde, com a economia, com a pandemia no geral.

Com os números assustadores e o desespero pelos mais frágeis, pelos doentes nos lares, nos hospitais, por aqueles doentes crónicos que são dependentes de tratamento hospitalar, nos mais dependentes, nos sem-abrigo, nos desempregados, desalojados, nos campos de refugiados e, depois, em particular as fragilidades reveladas nas nossas vidas e nas de quem nos é mais próximo, vimos aumentar a ansiedade a cada dia que passamos neste confinamento imposto, onde umas coisas se agigantam, como as saudades e as preocupações, e outras diminuem, como a resistência, e sim, o tamanho do bolso e da capacidade de termos as reservas necessárias para resistir até ao final desta fase, quer emocionalmente como economicamente, e sim, apesar de se racionar essas reservas, incluindo as reservas emocionais deste trauma coletivo, ainda assim existe a possibilidade de muitos podermos não chegar ao outro lado, onde esperamos estar a vida "normal" mesmo que diferente do que foi.

É aqui que entra a criatividade como a capacidade de nos reinventarmos, de termos a capacidade de encontrar formas de aceitar o que, sabemos, é muito difícil de aceitar. A criatividade de encontrar formas de verbalizar esse trauma pois é a forma de o ultrapassar.

Acontece que nem todos temos essa capacidade de verbalização, e por isso a necessidade de "verbalizar" de outras formas, através de qualquer meio expressivo, ou leia-se criativo, e através da resiliência, pôr em prática essa criatividade, não apenas para exteriorizar o trauma, como também para, de seguida o poder resolver.

Coronavirus-themed-street-art-around-the-world- Los Angeles, USA. Artist: Ponywave

 

Isto porque, reconhece-lo não elimina a dor mas é fundamental para tentar seguir e aguardar que, com o tempo, trabalhando, ele seja ultrapassado e incorporado naquilo que poderemos considerar como uma vida depois da vida, sendo que aqui a criatividade será encarada como um ato de coragem que  nos permitirá, à nossa maneira, sermos agentes ativos de resiliência na nossa vida e na dos outros.

Finalizo com mais uma citação:

(a criatividade)"Mostrou-me (...) que saramos umas partes de nós, mas que existem feridas que estão remendadas a ouro. (...) é criar a nossa arte que responde às nossas perguntas. É ela que nos cura. (...) Precisamos aparecer como a melhor pessoa que conseguirmos ser e, um artista (ou o artista em cada um de nós) precisa aparecer como o melhor criativo que sabe ser, só assim mudamos o nosso mundo para melhor."

Julia Cameron

P.S.

Para finalizar mesmo em condições, aqui ficam os links para algumas sugestões de exercício de criatividade:

-Link para seguir as lições de Phil Davis no "The Art Isolation Challenge". Trata-se de um desafio de 30 dias que aborda 30 temas diferentes relacionados com desenho, pintura e diversas técnicas.
O link para o video 1: https://www.arttutor.com/lime-wedge

O link grupo aqui no facebook https://www.facebook.com/groups/isolationartchallenge/

-Link para alguns cursos criativos gratuitos na Domestika: https://www.domestika.org/fiqueemcasa?utm_campaign=sharer&utm_content=share-https%3A%2F%2Fwww.domestika.org%2Ffiqueemcasa&utm_medium=referral&utm_source=facebook.com&fbclid=IwAR2uUPRhRqqhmMhkBlZZpDqWp5-k7URGKiSY8t2uxYMis5TD5gr7a9BhlXE#course-list

-Link para o desafio 100 dias: https://blog.sarafarinha.com/2020/04/11/the-100-day-project/?fbclid=IwAR3vE6mKM7FkRZNFlWP7tAylPRiL3-jGM6di20S7yxgkuxnskYK6uM0LEQY

-Link para cursos on-line gratuitos: https://www.edx.org/school/mitx?utm_medium=partner-marketing&utm_source=email&utm_campaign=mitx&utm_content=all-user-blast-april2020

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  • Inês R.

    O poético a surgir do mundano. Gosto tanto quando ...

  • Francisco Carita Mata

    "Os nomes são coisas pode- rosas...""Os nomes são ...

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{Cotovia} em Colectânea

Sinopse A Coletânea “ERA UMA VEZ…ALENTEJO” é uma obra que inclui poemas, fotografias, ou obras artísticas originais cujo tema e foco principal seja o Alentejo, e está abrangida no projeto europeu “Antologias Digitais”. Tendo a cidade de Évora sido recentemente nomeada Capital Europeia da Cultura 2027, faz todo o sentido homenagear não só a cidade como também toda a beleza circundante e riqueza cultural da região, e observar as maneiras como estas inspiram as pessoas de vários pontos do globo. Autor: Vários Formato: pdf Edição: 08.05.2023 Ilustração capa e contracapa: Ana Rosado; Vítor Pisco Editora Recanto das LetrasBaixar e-book

{Cotovia} em Antologia

Sinopse Aquilo que temos vindo a testemunhar desde 20 de fevereiro de 2022, provoca em nós sentimentos complexos, melhor expressados através da arte. Esta antologia recolhe estes sentimentos, e distribui-os para quem neles se reconforta e revê. Para o povo ucraniano, fica a mensagem de acolhimento, não só em tempos de crise, mas sempre. Porque é difícil expressar a empatia por palavras, mas aqui fica uma tentativa, por 32 autores, nacionais e internacionais. Autor: Instituto Cultural de Évora Formato: pdf Edição: 14.08.2023 Ilustração capa e contracapa: Ana Rosado Editora Recanto das Letras

{Apoio à Vítima}

A APAV tem como missão apoiar as vítimas de crime, suas famílias e amigos, prestando-lhes serviços de qualidade, gratuitos e confidenciais. É uma organização sem fins lucrativos e de voluntariado, que apoia, de forma qualificada e humanizada, vítimas de crimes através da sua Rede Nacional de Gabinetes de Apoio à Vítima e da sua Linha de Apoio à Vítima – 116 006 (dias úteis: 09h – 21h). Aquando de um crime, muitas pessoas, para além da vítima directa, serão afectadas directa ou indirectamente pelo crime, tais como familiares, amigos, colegas. A APAV existe para apoiar. Os serviços da APAV são GRATUITOS e CONFIDENCIAIS.

{Notícias Sobre a Ucrânia}

A UE condena com a maior veemência a agressão militar não provocada e injustificada da Rússia contra a Ucrânia. Trata-se de uma violação flagrante do direito internacional, incluindo a Carta das Nações Unidas. Apelamos à Rússia para que cesse imediata e incondicionalmente todas as hostilidades, retire o seu pessoal militar e equipamento de todo o território da Ucrânia, no pleno respeito pela soberania, independência e integridade territorial da Ucrânia dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas. A UE apoia os princípios e objetivos fundamentais da fórmula de paz da Ucrânia enquanto via legítima e credível rumo a uma paz global, justa e duradoura.
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