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{Cotovia} e Companhia

Olá Pessoas! Bem-vindas ao blogue da Cotovia onde (m)ando {cotovia}ando! Sigam a cor deste vôo: "Nascemos poetas, só é preciso lembrá-lo. Saber é quase tudo. Sentir é o Mundo." @mafalda.carmona

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{Cotovia} e Companhia

05
Fev24

O Mestre


Cotovia@mafalda.carmona

Cygnus_olor_2_(Marek_Szczepanek).jpg

(*1)

E O Rei Cisne
{Conto}

"Leis, Ordens e Costumes para Cisnes, 1482, reinado de Edward IV:


O Cisne é uma pura e graciosa besta.

A sua penugem é branca como a neve, igualmente breve,

pois significa a natureza fugaz da coisa bela.

Embora desejemos que o nosso esplendor seja eterno,

nada deve permanecer no que outrora foi." (*2)

 

Nos meandros da minha existência, onde a tarefa de guardião dos cisnes reais transcende o limite do tempo, desde os dias precoces em que abandonei o Slimbridge Wetland Centre com apenas 18 meses de idade, percebo que as experiências no cumprimento do meu cargo definem a minha essência. Mas, no emaranhado de normas e deveres, aos quais me submeto com fidelidade, encontro uma satisfação profunda nesta responsabilidade de mestre, guardião ou, nos dias actuais, guarda dos cisnes.

A vida, entretanto, não é um conjunto de obrigações impessoais. Desdobra-se, felizmente, em momentos de lazer que se tornam essenciais, um refúgio que transcende o dever. Nessas pausas, sinto uma satisfação semelhante ao momento em que o choco dos ovos cessa, e o leve chilrear das crias preenche o ar.

Ao regressar ao ninho após um dia de afazeres, despojo-me do casaco do fato vermelho, uma peça que se tornou um símbolo pessoal, sob o manto de penas brancas e macias. Desde os tempos da televisão a preto e branco, cultivo a minha lealdade ao canal da BBC, uma homenagem à Soberana, que já não está entre nós, mas cujas preferências continuo a honrar.

Além de assistir aos programas na televisão, maioritariamente sobre vida selvagem, nesta estação exigente, procuro mergulhos alternativos, que não os do lago gélido, como o da leitura. As escolhas de leitura não são meramente uma preferência, mas um portal para a minha individualidade e carácter. Cada autor seleccionado é um convite para que outros entrem na minha esfera mais íntima, a minha mente.

Ao contrário da leitura, que abraço conforme as minhas expectativas e preferências, também me dedico a escrever, mas a escrita desafia-me e delimita-me, impondo-me outro grau de exigência; "Como encontrar a palavra precisa para descrever, por exemplo, a beleza da paisagem ou dos cisnes sob o meu cuidado?", pondera em voz alta, enquanto afaga as penas do peito, esquecendo a pena de escrita perdida no meio das penas da sua asa. Continuando as suas divagações acrescenta para si mesmo, mas com a secreta confiança de que a sua companheira o escuta: " Contudo, a escrita não é uma mera manifestação de liberdade; tem de ser exercida com a necessária transparência, ou leveza, da minha essência. A ausência de verdade, decerto comprometeria a minha atribuição como cuidador, afastando os magníficos seres sob minha tutela, como se eu me transformasse numa mancha de bolor no tranquilo lago."

A honestidade, compreendo, é a base sobre a qual construo a minha existência. Não me vejo como o proclamado "rei dos cisnes", uma designação que rejeito. Evito a soberba, pois sei que ela me levaria à perda de respeito por mim mesmo e pelos outros, um afastamento não apenas dos meus pares, mas também dos meus antepassados e, inaceitável, do verdadeiro monarca, Sua Majestade, o Rei Charles III.

Embora nunca tenha dirigido cumprimentos pessoais a Sua Excelência Alteza Real, sinto-me em grande sintonia através do gosto comum pelas actividades na natureza e jardinagem, embora eu me dedique mais à limpeza e preservação dos pequenos e grandes lagos. Ambos contribuimos para preservar os costumes e um modo de vida enraizado em tradições imutáveis, mantendo vivo o conhecimento essencial para a interacção entre o mundo exterior e a minha existência singular, onde a minha arte forma um território maior que o simples ninho de um metro de diâmetro.

Ao partilhar o conhecimento com a próxima geração, reconheço a riqueza que essa troca proporciona. Encarregado de transmitir este legado aos netos, com a ajuda dos meus filhos e da companheira de uma vida inteira, testemunho com alegria o interesse dos mais jovens em aprender e seguir os meus vôos. Como eles, sempre fui curioso e criativo, recordando com saudade as iteracções, quando respondia pacientemente a uma enxurrada de questões. "De onde vêem? Existem em estado selvagem na natureza? Precisam de protecção? O que é o WWT, o WWF? É admissível o comércio? Quanto tempo vivem?".

Comprometido com a preservação desta arte, estou determinado a resgatar a criatividade e a partilhá-la como contribuição para a salvação do mundo. Apesar do tempo que me resta ser insuficiente para fazer mais, quero abrir uma pequena academia para passar esse conhecimento além da esfera familiar. Será a minha contribuição mais significativa para que todos possam conhecer e respeitar esta forma de vida.

Meticulosamente, preparo-me para redigir a missiva, alisando cuidadosamente as plumas antes de comunicar ao meu prezado Rei esta notícia extraordinária. Acredito que ele aceitará receber este humilde súbdito e planeio informar o Soberano sobre a minha pretensão, para que a passagem do testemunho seja aprovada, permitindo que outros interessados continuem esta tradição. "Ai ai, onde estará a pena de escrita?", questiono, na urgência de redigir a missiva. A minha companheira, imperturbável, numa elegância extrema, vence os poucos metros que nos separam no nosso lago de inverno coberto, como uma bailarina, e, sem esforço, recolhe de uma das minhas asas a pena de escrita perdida. "Não sei o que seria de mim sem ti. Obrigada querida." Agradeço e questiono:" Achas que o Rei me receberá?" Olha-me longamente e enquanto se afasta responde: "Espero que não querido, receio que como os teus antecessores, fiques tão encantado com o palácio, que não retornes, mas lamento informar, no Palácio Real, existem coisas que não vais querer saber, tal como o meu bater de patas me sustenta levemente, sem que vejas a violência por baixo das águas."

O rei cisne fica a cismar sobre as palavras da companheira, decide deixar cair a missiva que se dissolve nas águas, e guardar a pena para outras escritas.

Fim

 

(*1) Imagem de Wikipédia.com, data inicial de publicação 2007, créditos actualizados na data de 13h25min de 11 de Julho de 2022, sob licença Creative Commons Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, utilizada sem alterações, com efeito meramente ilustrativo. Link: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Schwanflug22.jpg como parte integrante do artigo principal, link aqui: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Cisne

(*2) Transcrito do episódio 6 da sexta temporada da série "The Crown".

19
Mar23

Daisy...


Cotovia@mafalda.carmona

Daisy Jones & the Six

  • Esta é a tal série que tem aparecido citada aqui nos textos das publicações da Cotovia e Companhia, que parece aplicar-se a tudo e mais 3 pares de botas...

A série é baseada no Top Seller do New York Times, com o mesmo título, da escritora Taylor Jenkings Reid, lançado em 2019.

Deixo-vos dois videos, um de um dos temas e o outro de um resumo desta série. Como introdução fica transcrita uma das, muitas, questões desta série:

"-E tu, o que fazes!? (quando estás triste)"

e a resposta:

"-Eu... sinto-A...(a tristeza)"

Também tem outras perguntas e respostas que abordam a criatividade e a complexidade.

Bom domingo, Pessoas! Dia feliz!

 

14
Dez22

Nada é novo debaixo do Sol...


Cotovia@mafalda.carmona

Está tudo inventado, a vida de um Hamster, Ariadne, Anjos e Inteligência Artificial

  • Olá Pessoas! Neste dia em que um enorme avanço na fusão nuclear a frio é alcançado, tenho novo monólogo da Cotovia, sobre a validade de duas afirmações: 

"já está tudo inventado";

e (muito pertinente)

"nada é novo debaixo do sol."

Esclareço de antemão, perdão, de ante-asa que discordo de ambas.


Muitas vezes, demasiadas quanto a mim, me deparei com esta afirmação, ou suas semelhantes em diferentes sítios, com diferentes vozes: "Está tudo inventado" e "nada é novo debaixo do sol".

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Salk Institute (Louis Kahn) 

Quando o arquiteto Kahn projetou o centro de pesquisa, ele imaginou que contribuiria para a melhoria da humanidade. Kahn cria espaços de laboratório espaçosos e desobstruídos, adaptados às necessidades em constante mudança da ciência. Os materiais de construção tinham que ser simples, fortes, duráveis ​​e livres de manutenção o mais possível.

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Quanto a "não há nada de novo debaixo do sol" é uma afirmação com 3000 anos,  provinda da Biblia, no livro Eclesiastes que se inscreve na corrente de sabedoria, e é atribuído a Salomão, " filho de David, rei de Jerusálem". A reflexão sobre o tema central "A Vida terá Sentido?" , escrito no século III a.C. , revela:

"um pessimismo deste livro que, afinal, se mostra profundamente crítico, lúcido e realista. (...) e o discurso oscila entre a repetição do antigo, a sua negação no presente da experiência quotidiana, e a busca interrogada que ainda não obtém respostas." 

Nesse sentido, quanto à afirmação tantas vezes repetida como uma confirmação de que nada é original, remete para a leitura na íntegra ( e íntegra) do texto, para a devida contextualização:

"daí a complexidade do ópusculo, as diversas leituras possíveis e o recurso dos estudiosos a vários autores para explicar a aparente  multiplicidade de linhas teológicas".

in  Bíblia Sagrada, ed. Soc. S. Paulo, 1993, com prefácio do Secretário da Conferência Episcopal Portuguesa.

 

Quanto a "Está tudo inventado", quem o terá dito terá sido o Duell, Charles, e o motivo desta sua afirmação, terá sido feita no contexto de uma proposta para o encerramento da secção de registo de novas patentes. Ora não só a sua proposta foi rejeitada, como as patentes continuam a ser uma realidade.


"Para que uma patente possa ser depositada é necessário que o produto ou processo motivo do pedido seja um invento novo, sem similaridade com algo já existente".como podemos ler no site justica.gov.pt/registos : "A patente permite-lhe proteger uma invenção nova, que ainda não tenha sido tornada pública e que não seja óbvia relativamente ao que já foi divulgado",

Esclarecendo de seguida o que significa ser nova (por ter atividade inventiva), e também, daqui se subentende a realidade da perpétua saga inventiva e criativa do ser humano, a diferença entre a patente natural e a de origem na inteligência artificial, sendo que, por enquanto, a inteligência artificial não tem direitos diretos, ou naturais, de patente. No entanto já estivemos mais longe do universo retratado em "2001 uma odisseia no espaço" de Kubrick ( e Arthur C. Clarke) datado do ano de 1968.

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HAL-9000: o terror de 2001. (Foto: Reprodução/Metro-Golden-Mayer)

O que me leva ao artigo de Bergson sobre "o esforço da invenção" :

"O escritor que escreve um romance, o autor dramático que cria personagens e situações, o músico que compõe uma sinfonia, o poeta que compõe uma ode, todos têm no espírito, em primeiro lugar, alguma coisa de simples e de abstracto, isto é, de incorpóreo. Para um músico ou para o poeta é uma impressão nova que se procura transformar em sons ou em imagens. Para o romancista ou dramaturgo é uma tese a desenvolver em acontecimentos; um sentimento, individual ou social, a materializar em personagens vivas.

Trabalha-se sobre um esquema do todo, e o resultado é alcançado quando se chega a uma imagem distinta dos elementos. (...)  

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Portanto, e tal como a entidade que rege as patentes discordou, por motivos que certamente indicou, também eu tenho de discordar de Duell... por motivos que em seguida refiro:

Primeiro, entendo que rejeitar a originalidade é rejeitar a própria existência.

Segundo, é a assunção de já estar tudo vivido.

Terceiro, ( vem aí o hamster...) é assumir que tudo existe ou existiu antes, nada surge de novo, que a partir de um dado ponto seremos, enquanto Humanidade, nada mais do que o hamster que faz girar a máquina de Deus retratado na série da Netflix, "Ninguém Tá olhando".

Netflix, trailer de ‘Ninguém Tá Olhando’, Será mesmo que o Chefe é, apenas, um hamster que só fica correndo para dar “corda” ao maquinário das bolinhas ou existem alguém?


Assim, pelos pontos supra referidos, discordo veementemente, com esta afirmação do "já está tudo inventado".

Além disso, o dado fundamental a provar que não está tudo inventado, é a impossibilidade de terem sido colocadas todas as perguntas, ou estarem dadas todas as respostas. Portanto, enquanto existirem perguntas para fazer, não está tudo inventado, nem saberemos como se apresentará o Mundo, nem a Humanidade, no Futuro.

E sim, vale a pena continuar a fazer perguntas que ainda ninguém formulou, e a encontrar originalidade para criar algo de autenticamente novo e diferente do que existe.


Por outro lado, também não concordo com a afirmação de que toda a obra ou é um roubo ou é uma cópia, e que o segredo está em copiar tão bem que não se perceba a cópia, como se não tivéssemos aprendido a lição pelos nossos próprios meios e estivéssemos num exame a copiar pelo colega da frente ou do lado, e tivéssemos de o fazer com engenho, para o conteúdo ser o mesmo mas com uma forma aparente diversa, para ninguém ser descoberto e anulados ambos os exames, (por isso até para escolher quem se deixa copiar é preciso ser um bom conhecedor do génio humano).

A utilidade deste processo é que me escapa, pois, não apenas confirma a inexistência de conhecimento, como também a futilidade deste mecanismo, que se revela inútil para gerar qualquer coisa criativa original, ao não ter fundamentos, as tais bases essenciais do conhecimento prévio. 

A cópia é, ou será em hipótese, útil quando, e, se está em fase de aprendizagem, enquanto que a informação não é absorvida e incorporada. Depois disso é desnecessária e prejudicial, pois impede a descoberta de um estilo próprio, seja de pensamento, seja de expressão, criativos.


A proliferação da cópia é contraproducente porque há perguntas que só existem dentro de cada um.

E é importante que essa particular visão, transposta em perguntas, se torne real, para que quem formula essas perguntas, prossiga para o campo da criação de modo tão intuitivo como respirar, e assuma o risco e a responsabilidade de trazer essa nova realidade ao mundo, transformando-o.

Esse será o verdadeiro problema da originalidade, se for governada pela prudência e pela continuação da formulação das mesmas perguntas seguras, os resultados serão os mesmos, os limites do conhecimento estáticos, inalterados, o mundo pára de girar, e o Hamster nunca será descoberto.


Mais, aquele que sabe, conhece, não precisa que lhe mostrem nada, que lhe revelem os segredos, que lhe expliquem como operar a magia, basta-lhe olhar e compreende e reconhece o funcionamento daquele mundo. Mesmo se isso implicar labutar horas infindas na busca desse conhecimento que intui existir e que ambiciona dominar.

Pela observação do mundo, não só é possível entender o seu funcionamento, a "macchina interna funcionale", como através da reflexão, descobrir os segredos da técnica ou tecnologia e seguir para a frente, tendo como novo ponto de partida o estadio imediatamente anterior, como se fosse uma teia de Ariadne, a aguardar, pacientemente ser meramente finalizada pela intervenção humana.

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Criatividade e Potencial Criativo


Ou seja, para o processo de aprendizagem é necessário o acompanhamento para (re)conhecer o Mundo e o conhecimento e adquirir as ferramentas adequadas a cada área, para se iniciar o processo onde se passa das perguntas iniciáticas do "-porque?", para se propor os "-e se...?" e finalizar com o "-como?".

Reconhecemos estas Gigantes Pessoas em Darwin, Montessori, Gaudí, Mozart, Callas, Heinstein, Seymour, Verne, Rego, Duncan, Johnson, Picasso, e não apenas estas 12 magnificas Pessoas, muitas mais.

Não haveria aqui espaço para referir todas aquelas Pessoas que nos fazem sentir Gigantes enquanto Humanidade, e Formigas enquanto Pessoas, pelo reconhecimento da enorme distância que separa o comum mortal do génio intemporal na sua capacidade de propor a pergunta certa, o "-e se... em vez de ser assim fosse de outro modo?"

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Encontrar essa pergunta que propõe alternativas, essa pergunta justa, no sentido de ser a pergunta certa, certeira, correta, adequada, aí reside o propósito, ou missão, para quem pretende ter uma vida criativa, e... quem sabe, genial.

E para vós Pessoas, fica a seguinte pergunta:

O que acham, já estará tudo inventado ou ainda é tempo para originalidade, e a criatividade é inata ou algo passível de ser desenvolvido?

Boas reflexões, boa semana, Pessoas!

26
Out20

Viva a Liberdade...e o algodão doce...

Dia #3/100


Cotovia@mafalda.carmona

...E as nuvens

  • ...e viva a Arquitectura que estamos no mês de outubro! E porquê? Porque dão sentido à vida. Pelo menos em parte.

Pensando sobre isso, o que dá sentido a uma vida? O trabalho? A família? O dever? O poder? A devoção? O amor? Porventura a criatividade? As pessoas?

Acho que (...e se não leram o post sobre a importancia de achar podem ler aqui... ), não apenas na vida mas também na arquitectura, são todos.

Falando inicialmente da arquitectura, porque é coisa e das coisas falamos mais facilmente e ferimos menos susceptibilidades:

Porque, na criatividade do gesto sobre o lugar, essencial para exercer a arquitectura são precisos, pelo menos, 6 elementos: imaginação, lugar, tempo, possibilidade, capacidade e pessoas.
E depois disso muitos outros, entre eles a relação com o cliente, com as entidades municipais, com as especialidades, regulamentos legais e mais.
Mas destes, apenas num elemento existe o controle, que é a imaginação, no entanto se os outros 5 elementos não forem convenientemente conjugados, não existe a chamada "capacidade".


Por isso a arquitectura é arte e técnica.

Porque precisa de responder a um programa, precisa de ter um cliente que a torne sustentável, precisa ser exequível financeiramente, precisa solucionar um determinado problema, precisa ser, no fundo uma ferramenta apurada para chegar a um objectivo, é um "fix it" como na série de TV, e entristece-me quando, demasiadas vezes acaba por ser, apenas, um problema. Basta olhar em volta.


Pode, é verdade, no seu melhor, criar todo um mundo excepcional, tornar experiências sensoriais uma realidade palpável extraordinária e abalar emocionalmente quem a contempla ou dela frui. Quem fica indiferente ao visitar a obra maior de Gaudi?

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Fotografia de Mafalda Carmona

Suponho ninguém, porque os gestos dos génios não são desenhados para a indiferença, são consumados para durar uma eternidade. Mas, não são, em momento algum, um gesto isolado.

Não são reflexo de um ato de liberdade, não são livres. Não porque, em primeiro lugar temos a gravidade, temos a matéria em segundo, depois temos as pessoas, o factor humano, e qualquer um destes factores impõem constrangimentos ao exercício da liberdade.

Aliás se existisse esse 7° factor na arquitectura, o da liberdade, não seria arquitectura, seria qualquer outra coisa, como nuvens ou algodão doce ou chuva ou espaço 1999 e voava.

E, isso nem monsieur Le Corbusier conseguiu, mesmo pondo as suas obras elevadas sobre esqualidos pilotis, nem Oscar Niemayer com suas redondas espacialidades que quase pairam, mas não.

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Ilustração de @mafalda.carmona com base na Fotografia Via Metrópoles. Imagem de divulgação. Autor Nani Goes

Assim, se confinados, a arquitectura que nos rodeia sofre a transmutação para a sua pior versão, a da imobilidade, da limitação, da barreira. Porque, em confinamento, se torna numa concha demasiado pequena para ser, o existir, e ainda que devamos a evolução da espécie ao sedentarismo, isso não impede que se sinta a imobilidade, impotência, a claustrofobia, e estas limitações obrigam a, necessariamente, procurar, novamente, a liberdade.


E, como matéria que não voa, nem estica, nem se espande, então a mente toma-lhe o lugar e voa.

Escapa-se noutros gestos, outros meios de sobrevivência, de comunicação, em exercício de Houdini pode concretizar-se na redescoberta do amor primário pelas formas. Sim, mas agora pelas formas das letras, pela sonoridade das palavras quando se agrupam, a expectativa da pontuação, as imagens criadas pelos parágrafos. Um outro mundo paralelo de criatividade, o da escrita, para continuar a construir histórias, narrativas, não de pedra e cal ou cimento ou qualquer outra materialidade, e redescobrir, uma vez mais a liberdade. Com letras e um meio de as fixar, pode levar-se a cabo a construção de um universo infindo, que só necessita de dois elementos : tempo e imaginação.

Onde o gesto do desenho da criação das formas e das suas relações passa a ser o da escrita.

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Os meus escritos antes da escrita.

Neste criar o que se quiser e se expressar seja o que for, acessível a todos, tão democrático quanto livre, existe também este inspirar profundo, este respirar sem constrangimento ou emergência, apesar das pandemias, crises, guerras ou por causa delas.

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{Cotovia} em Colectânea

Sinopse A Coletânea “ERA UMA VEZ…ALENTEJO” é uma obra que inclui poemas, fotografias, ou obras artísticas originais cujo tema e foco principal seja o Alentejo, e está abrangida no projeto europeu “Antologias Digitais”. Tendo a cidade de Évora sido recentemente nomeada Capital Europeia da Cultura 2027, faz todo o sentido homenagear não só a cidade como também toda a beleza circundante e riqueza cultural da região, e observar as maneiras como estas inspiram as pessoas de vários pontos do globo. Autor: Vários Formato: pdf Edição: 08.05.2023 Ilustração capa e contracapa: Ana Rosado; Vítor Pisco Editora Recanto das LetrasBaixar e-book

{Cotovia} em Antologia

Sinopse Aquilo que temos vindo a testemunhar desde 20 de fevereiro de 2022, provoca em nós sentimentos complexos, melhor expressados através da arte. Esta antologia recolhe estes sentimentos, e distribui-os para quem neles se reconforta e revê. Para o povo ucraniano, fica a mensagem de acolhimento, não só em tempos de crise, mas sempre. Porque é difícil expressar a empatia por palavras, mas aqui fica uma tentativa, por 32 autores, nacionais e internacionais. Autor: Instituto Cultural de Évora Formato: pdf Edição: 14.08.2023 Ilustração capa e contracapa: Ana Rosado Editora Recanto das Letras

{Apoio à Vítima}

A APAV tem como missão apoiar as vítimas de crime, suas famílias e amigos, prestando-lhes serviços de qualidade, gratuitos e confidenciais. É uma organização sem fins lucrativos e de voluntariado, que apoia, de forma qualificada e humanizada, vítimas de crimes através da sua Rede Nacional de Gabinetes de Apoio à Vítima e da sua Linha de Apoio à Vítima – 116 006 (dias úteis: 09h – 21h). Aquando de um crime, muitas pessoas, para além da vítima directa, serão afectadas directa ou indirectamente pelo crime, tais como familiares, amigos, colegas. A APAV existe para apoiar. Os serviços da APAV são GRATUITOS e CONFIDENCIAIS.

{Notícias Sobre a Ucrânia}

A UE condena com a maior veemência a agressão militar não provocada e injustificada da Rússia contra a Ucrânia. Trata-se de uma violação flagrante do direito internacional, incluindo a Carta das Nações Unidas. Apelamos à Rússia para que cesse imediata e incondicionalmente todas as hostilidades, retire o seu pessoal militar e equipamento de todo o território da Ucrânia, no pleno respeito pela soberania, independência e integridade territorial da Ucrânia dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas. A UE apoia os princípios e objetivos fundamentais da fórmula de paz da Ucrânia enquanto via legítima e credível rumo a uma paz global, justa e duradoura.
Em destaque no SAPO Blogs
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