Vaga Maresia
Cotovia@mafalda.carmona
Vaga Maresia
{Poema}
Deixaste-me viúva de mim mesma,
do que era a minha essência,
esse elemento abstracto,
tão subtil, que me define,
desfaleceu nos degraus do molhe,
e, incompleto, seguiu,
soprado pelas rajadas de vento
entre as sombras das nuvens,
ao sabor do prenúncio de temporal.
O meu silêncio,
esse deixaste-o comigo,
despida de ti, senti a pior sorte:
A de me ver, assim, partir,
em precário equilíbrio no fio do tempo,
quando julguei ter perdido a lucidez.
E o meu corpo,
esvaindo-se do quente toque,
não é apenas a aridez da ausência,
mas um destino,
o do exílio num país intemporal.
Hesito, perdida na imensidão,
na mão a aspereza do escalpe,
sob uma pele que já não me serve,
coberta de uma inesperada nudez.
Pela janela do mundo omnipresente,
com os olhos vazados pela paixão,
jurei, na vastidão,
ver surgir papoilas,
com estames de lágrimas negras,
no espaço vago entre as ondas.
Eram, afinal, pérolas de bruto sal,
aflorando na crista das vagas imensas,
são exércitos de rainhas de cristal.
Navegam contra a nortada e turbulências,
enfrentam o final do seu destino,
armadas de lâminas feitas de escarpas.
Serão fuziladas sem clemência,
partículas de um inevitável adeus,
e então já não me saberão pronunciar.
No brilho do farol escuto um murmúrio,
feito de esperança,
em palavras mudas.
Nas invisíveis linhas, vejo,
Que lançados estão os anzóis,
Preparadas as redes finas.
E ali, deitada no frio areal,
Sob a crueza do céu de inverno,
A aprender a língua do mar,
Traduzindo a própria morte,
Descanso, enfim.
Procuro no horizonte o novo nome
Para a saudade me poder chamar.
Mas mesmo que o amor me alcance,
Só eu me poderei resgatar.
@mafalda.carmona
09.02.2025 | 21:13 hr.
Editado 17.02.2025
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