Ou como há um fio (muito) ténue entre a perseverança e a desistência.
Há quem diga ser o mesmo fio (ténue) a separar a loucura da sanidade. Mas, tal como na ladainha para adormecer crianças pequenas, na qual os "elefantes se baloiçavam numa teia de aranha, e, como viam que resistia foram buscar companhia", tenho para mim que o fio a suportar o lado da sanidade, se apresenta contra todas as expectativas, na inesperada resistência de uma palavra amiga, familiar, ou desconhecida, de um passeio à beira mar ou no campo (ou onde quiserem), de uma leitura de um artigo ou de um livro, de uma memória que abre uma porta para um pensamento diferente do de então ou gera uma ideia nova, e nos providencia um suporte e alento determinantes para não desistirmos.
Normalmente este fio, ou fios, veem de contextos e intervenientes que devem a sua aparente inexplicabilidade à chamada "providência".
O universo (ou a natureza) envia-nos estas mensagens de forma mais ou menos constante e dependemos apenas da atenção aos detalhes e coincidências para as recebermos.
É a chamada" intuição", que aliada à experiência permite passar do fio ténue à teia estruturada.
Pelo meio deste processo está o conhecimento de nós mesmos, porque uma coisa é recebermos a mensagem, outra é descodificar e ler essa mensagem para fazer sentido.
Sem o conhecimento de nós mesmos, estamos à deriva, pois não sabemos quem somos nem para onde vamos, quanto mais traduzir a mensagem e nela reconhecer a informação que transporta para a tornar útil à nossa existência.
O pombo até chega, mas a mensagem vem escrita em mandarim, ou os sinais de fumo não nos dizem nada e o código Morse ou Braille são completos desconhecidos irreconhecíveis e imprestáveis para qualquer função senão a de nos baralhar e frustrar.
wikipedia.Morse
Quando se tem a sorte de se nascer com características vincadas e reconhecidas por todos, incluindo por nós mesmos, como no caso de se ser uma cotovia, um melro, um gafanhoto, ou um pinheiro, esta tarefa fica facilitada. O que somos é evidente para todos e coincidente com a aparência. Agimos e sentimos como os da nossa espécie, sem sequer pensarmos muito sobre o assunto até porque nestes casos, raros na espécie humana onde existe a dificuldade acrescida do "todos iguais mas todos diferentes", livres do constrangimento de se procurar saber quem se é, se passa diretamente para a ação.
É inato.
Noutros casos, este conhecimento não é evidente e, a duras penas, tem de se iniciar, ou continuar, ou terminar, o processo de auto-conhecimento, sob pena de permanecer "patinho feio" para a eternidade, sobretudo aos nossos próprios olhos.
Algumas vezes este auto-conhecimento necessita de isolamento, uma abordagem mais socrática, com cavernas e sombras onde após reflexão descobrimos o sentido da vida, outras, a ajuda de alguém dedicado a estudar o funcionamento do ser, os psicólogos, noutras, talvez o processo seja mais simples, e passe por uma simulação de um encontro imediato com o Génio da lâmpada de Aladin:
E o génio diz:
"-Neste momento, com a experiência que tens, com o que sabes hoje e aprendeste sobre ti, os outros e o mundo, se pudesses escolher o que serias e o que farias, sem constrangimentos, preocupações financeiras, de saúde, ou quaisquer outras, quem serias? O que farias com a tua vida? Como ocuparias o teu tempo? O que te vês a fazer? Pelo que gostarias que os outros te "reconhecessem"? Ou te reconhecesses? Onde viverias e como viverias?"
E as perguntas do Génio são para ser respondidas. Com convicção.
Vamos mesmo mais longe e aproveitemos a oportunidade de o Génio estar ali para ter uma conversa com ele. O Génio pode ser o entrevistador de uma fundação, o headhunter de uma empresa, o formador numa entrevista com questionário aberto, sem resposta múltipla nem auxiliares de memória. Seja quem for o vosso Génio ele pode dar-vos o acesso à vida onde desenvolvem o potencial, onde ganham uma bolsa vitalícia para alcançar os vossos objetivos, ou seja o que for que estava no vosso plano, o Génio vai analisar e deliberar. Assim, mantenham um grau de exigência acima da média, justifiquem, apresentem os vossos pontos fortes e a experiência prévia.
Indicar o porquê da vossa escolha é essencial, e responder à pergunta sacramental de qualquer entrevista "onde se vê daqui a dois anos, 5 anos e 10 anos?" também. E é para registar tudo.
Se forem como os elefantes, e além de resistirem sobre uma teia de aranha, tiverem também uma memória prodigiosa, confiem nela para saberem a todo o instante quais as vossas respostas e visão de futuro. Já se forem como eu, distraídos, o melhor é escreverem ou descreverem essa imagem, fazerem um desenho, uma colagem com recortes, um esquema com setas e sublinhados, o que funcionar melhor para cada uma de vós pessoas.
E é para por isso num sítio bem à vista, podem mesmo afixar num íman no frigorífico, numa parede, ou num espelho e assim além de poderem rever o plano a qualquer instante, por um lado, as vossas pessoas não vão resistir a perguntar o que é, por outro. Podem usar essa curiosidade para revelar o vosso plano. Nessas revelações, o plano pode mostrar alguma incoerência ou partes a serem complementadas, quanto mais vezes o reverem mais coerente fica. A dada altura já nem é preciso relembrar qual o plano, a imagem, a visão que tiveram, o ponto de partida e o de chegada, já incorporaram toda a informação e estão a por o plano em prática num processo contínuo, diário.
Por vezes os fios vão quebrar, verdade, e é natural e previsível isso acontecer.
Mas tendo a imagem geral da estrutura da teia, o plano, é mais fácil identificar o ponto a ser reforçado, refeito, a ligação a ser restabelecida, o ponto de ancoragem sólido, existente ou novo, o local onde construir ou iniciar nova teia.
Quando descoberta esta "imagem" de nós mesmos, e a nossa teia ou estrutura está finalmente completa.
Neste ponto podemos anunciar ao mundo que somos seres "estruturados".
O nosso caminho fica livre e simplificada a tarefa de descodificar as mensagens necessárias para nos aproximarmos o mais possível da visão que desenhámos para nós mesmos.
E resistir. Confiar.
Em primeiro lugar confiar em nós mesmos, e muito importante, com conhecimento, confiar no outro, no universo e na natureza da providência.