- Volta e meia aqui no blogue da Cotovia e Companhia "aparecem" (pois ao que parece cada um tem a providência que entende, incluíndo a divina, porque, para alguns o divino já não é o que era) várias escritas sobre primos, como a Gralha e o Pisco, e mais ainda sobre amigos improváveis como o Sr. Salmão, a Srª. Toupeira, a Srª. Formiga, o Sr. Elefante entre outros como o afável Sr. Porco.
Hoje, (e o uso desta palavra é no sentido reforçado do "carpe diem" ou como disse António Feio, não deixar (mesmo!) nada por fazer, nada por dizer, Hoje!
Não num futuro hipotético, mesmo se esse futuro parecer próximo, pode não chegar, e a única coisa garantida é (mesmo!) este !Hoje!
E neste que é o 51" post da Cotovia e Companhia, vou refletir sobre as vidas do Sr. Melro e da Srª. Cotovia.
Os melros, com o seu canto tão melodioso, audível no final da tarde (mas não só), quais rouxinóis do ocidente, sobrevivem e prosperam.
Enquanto isso, as cotovias, aparecem e desaparecem, sempre muito atarefadas, e o seu canto é apenas audível para os madrugadores. São tão esquivas que quando avistadas raramente há tempo para registar o momento. Pela sua capacidade de se elevarem muito rapidamente no ar, ou com brusquidão se deixarem cair, representam, para os Gauleses, a incapacidade de serem perseguidos e a vitória sobre os elementos(¹). Quanto ao seu canto na manhã é, ao contrário do melancólico melro, o canto da alegria... e talvez por isso as avistemos cada vez menos (as reais e as metafóricas).
(¹) Artigo mito-literatura-e-folclore-cotovia blogue no Sapo "Vida Magia"
Assim, pus-me a pensar na vida dos melros e das cotovias, não como Shakespeare (ou talvez um pouco na sequência da cotovia anunciar a madrugada e com ela a separação de Romeu e Julieta, e não faço grande spoiler ao revelar tratar-se da separação pela morte) mas porque são facilmente observáveis, e, a propósito de cotovias e melros cheguei a duas conclusões (ou talvez mais, já se vê...):
1ª.) Em relação à cotovia, "não é por muito madrugar que amanhece mais cedo";
2ª.) Em relação ao melro, "a melhor defesa é o ataque" e "a união faz a força".
Pois serão três ditados populares, como sabemos, porque "não há uma sem duas nem duas sem três".
Será? Será que os ditados populares fazem sentido? E a observação do comportamento das outras espécies permite-nos obter dados suficientes para chegar a conclusões sobre o comportamento dos seres humanos, ou são extrapolações?
Veremos (ou nem por isso) neste monólogo da Cotovia.
Vamos por partes, começando pela observação do comportamento dos melros.
Constato que onde há um melro, há sempre mais outro, no mínimo.
Outra constatação é que são extremamente ciosos do seu território. Sempre a bicar na terra, ainda têm tempo para se porem em posição de agachamento em andamento (não sei se o fazem para serem mais rápidos e furtivos, ou por alguma consideração aerodinâmica que só os melros conhecem...), para irem correr com os pardais (não no sentido de um treino para a meia maratona das aves, é correrem com os melros dali para fora). Esta é uma tarefa difícil porque os pardais se apresentam em bando, e, quando se levantam uns de um lado, logo outros estão no outro, tanta agitação acaba por saturar o melro, que fica num rodopio para trás e para a frente, e não há técnica furtiva, ou aerodinâmica, que resista.
Com os piscos, os melros são mais tranquilos, eventualmente não concorrem pelos mesmos petiscos, nem locais de nidificação.
Agora com as rolas, embora a participação destas seja diminuta, os melros fazem autênticas exibições de técnicas de voo dignas de batalhas campais, qual gato nos quintais em noite de lua cheia, só que de dia, embora não contagiem o comportamento das rolas, que se mantém imperturbáveis, como pássaros comportados e muito calmos, continuam lá na sua vida de rolas amorosas, e maioria das vezes só vêm beber água (a fazer lembrar as histórias da avó C. das rolas-meninas que se escortanhavam, parece que o termo correcto é escortinhavam, segundo o iscte - iul.pt, todas nos tanques de lavar roupa, talvez mensagem feminista que a avó C. tentava transmitir, de modo subliminar, pois na época as senhoras comunicavam com um código mais secreto que o "Codigo da Vinci" de Dan Brawn, mas isso tem de ficar para outra altura e outras investigações) e, por isso, depois de tentarem fazer pressão passiva, insistindo um pouco para tentar passar as defesas do melro, enquanto este dá piruetas malucas no ar em acrobacias frenéticas (e de certo desgastantes) as rolas desistem, e levantam voo na vertical, naquela sua forma característica como se tivessem a certeza de ter todo o tempo do mundo ( não estarão preocupadas como eu com esta questão do... Hoje)
Coisa extraordinária, observada num certo dia no quintal, um casal de melros (a confirmar, como disse, que quando há um melro há sempre mais outro) a defenderem o seu espaço aéreo de...um...corvo!
A coisa deu-se mais ou menos como na lengalenga do chinês:
Eram três, dois melros e um corvo, o corvo mais audaz lança-se em voo e zás trás! Mas pensam que o corvo os venceu? Nah, vou contar como foi.
Foi assim:
Os melros juntaram-se os dois, em voo directo com os bicos na frente para chegarem primeiro e mais rápidos, ou lestos, a esbravejarem e a baterem as asas, enquanto bicavam o corvo, que sem perder tempo nem olhar para trás se pôs em fuga. Os melros, com um terço do tamanho do corvo, mas como o tamanho não interessa nada, que o diga o "Tomy", o Cruise claro, também nas suas peripécias pelos ares em aventuras cinéfilas, lá foram a escoltar o corvo, um de cada lado, tal qual caças F-39, até ao limite do que consideram o seu território, a cerca de uns, valentes, 100 metros de distância do ninho.
Conclusão, manter uma atitude vigilante para defender o território, é cansativo mas efectivo.
É a chamada "Guerra da Paz" como no título de um livro de Vernor Vince, escritor de ficção científica, lugar onde deveriam ficar todas as absurdas (estúpidas e destrutivas entre outros adjectivos, como se já não fosse tragédia e sofrimento suficientes os provocados por cataclismos naturais, terramotos, maremotos, incendios e pandemias) guerras da actualidade, já que nas passadas em nada podemos interferir, e nem sequer inferir factores dissuasores de novas guerras.
Em ramificação desta primeira conclusão poderemos ir buscar um ditado muito popular (desculpem-me as cobras e víboras), "às cobras e às ervas daninhas, cortam-se as cabeças quando são pequeninas"... Ou seja, enterrar a cabeça debaixo da areia como as avestruzes, ou fazer de conta que não se está a passar nada, não previne mal nenhum (nem na guerra, nem na saúde, nem, já agora, nos relacionamentos).
Para reagir a qualquer situação, é agir com pro-atividade, desde cedo (para isso tem de haver atenção e informação), prevenir com práticas saudáveis e assertivas mas eficazes. E porque "uma única maçã estragada pode dar cabo de uma cesta inteira", consegue-se, através da união, resolver atritos e correr com aqueles que querem por a pata, no caso, o bico, em ovos de ninho alheio. Sejam os melros, sejam os pardais, que unidos e apesar de em desvantagem inicial, ganham a força necessária para alcançar a segurança da Paz.
Chegaremos ao ponto evolutivo enquanto Humanidade de a Paz se fazer sem guerra? Nessa altura escreverei novo monólogo sobre o tema (ou outra cotovia resistente que esta não fica para semente nem matusalém).
Por agora concluo que a resistência e a união é a opção para impedir e travar a caminhada para a extinção, da humanidade, das cotovias e do planeta.
Viva a resistência!
E já agora, como remate final, "quem com ferros mata, com ferros morre." no sentido de que "quem anda à chuva molha-se." e também, infelizmente, "uns comem os figos, outros rebenta-lhes a boca." e, "pelo pecador paga o justo.". E ainda, não contem comigo para alinhar no provérbio "pimenta nos olhos dos outros é refresco." pois se puder impedir não ficarei de braços cruzados, perdão, asas caídas, e até os F-39 ficam de asa à banda, que isto na vida " tão culpado é o que vai à horta como o que fica à porta."