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{Cotovia} e Companhia

Olá Pessoas! Bem-vindas ao blogue da Cotovia onde (m)ando {cotovia}ando! Sigam a cor deste vôo: "Nascemos poetas, só é preciso lembrá-lo. Saber é quase tudo. Sentir é o Mundo." @mafalda.carmona

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{Cotovia} e Companhia

24
Jan25

Respirar


Cotovia@mafalda.carmona

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Respirar

{Diário}

Sentei-me numa almofada, no chão da entrada. À esquerda, a porta da rua; à direita, o velho cão T., prostrado sob a manta, e o gato S., na cadeira. Dois níveis de existência distintos, pensei.

Estava a ler "Despedidas Impossíveis", de Han Kang. Por um momento, li em voz baixa, na esperança de o tranquilizar. Não adiantou. Continuei a leitura em silêncio, até que, sem perceber, dormitei.

Acordei com um som discreto: um espasmo involuntário do cão. Olhei-o. Inspirava, expirava – o leve movimento da manta confirmava. Respirava.

Lembrei-me de algo dito por uma médica:
"A fisioterapia é respirar, mas não de qualquer forma. Inspire como quem cheira uma flor; expire como quem sopra um balão; e, quando achar que já expirou tudo, expire ainda mais um pouco. Esse esforço final é o que faz a diferença."

Há nisso uma estranheza inesperada. Por vezes, a vida persiste no que parece exaurido, nos gestos mínimos que se repetem de forma consciente. Até que deixamos de os fazer. Porque insistimos em continuar para além desse ponto, para além do expectável, é um mistério.

A ventoinha do aquecedor, com o som constante, embalava o sono. Era cedo, e a madrugada fora interrompida pelo lamento do cão. Tapei-o melhor com a manta, enquanto o gato saltava para a cadeira, entregando-se ao ritual de cuidar do próprio pelo. O contraste entre a vitalidade felina e a fragilidade canina não me passou despercebido. Não seria eterna.

O corpo do T. estendido, moldado ao espaço do corredor, respirava em silêncio. Os olhos fechados parecem muito mais pequenos, e as lágrimas uma constante.

Os olhos ficam cada vez mais pequenos. Talvez as lágrimas fiquem do lado de fora porque já não há espaço dentro. Um pensamento perturbador.

Levantei-me, sentindo o frio do chão nas pernas, e preparei-me para o dia. Sexta-feira, normalmente a minha favorita. Hoje, não era o caso.

Passei com cuidado pelo cão a caminho da cozinha. Confirmei. Ele dormia, o corpo ajustado ao espaço. Respirações leves, pausadas. A manta a confirmar que está vivo, respira. Mas é a manta que está viva.

Suponho que, verdadeiramente, já não esteja.
É triste quando já não estamos nós, mas apenas algo que nos representa.
E nem sempre por termos partido. Nem sempre é físico.
Os sentimentos também respiram, mas partem primeiro. Vão com as lágrimas.

@mafalda.carmona
24.01.2025 | 13:31 hr

12
Mar24

O Lobo...


Cotovia@mafalda.carmona

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O Filósofo e o Lobo

{Leituras}

 

Olá Pessoas!

Deveria ter feito uma publicação ontem, segunda-feira, como habitual, perguntam? E eu respondo: sim, devia, mas fiquei em reflexão pós eleições, tendo já despendido tempo real para a reflexão pré-eleitoral, desta feita e em resultado dos resultados (desculpem a evidente redundância), nada como refletir sobre o ser humano.
E perguntam novamente vocês Pessoas, então e porquê isto do lobo?

Pois parece que o escritor e filósofo Mark Rolands (1962), bretão, perdão, com local de nascimento no País de Gales, a viver actualmente em Miami, é que tem a culpa pois dedica grande parte do seu tempo a pensar sobre a filosofia da mente e o estatuto moral dos animais não-humanos. Talvez aqui este texto comece a fazer sentido para vós, Pessoas.

Assim, reconstruí as primeiras páginas do livro (uma outra forma de dizer que fiz copy-paste, ou seja, cortei e transcrevi ou copiei para aqui com o intuito de vos apresentar esta obra) e como resultado aqui está este resumo.

Este excerto d'O Filósofo e o Lobo" publicado inicialmente em 2008, sendo o meu exemplar uma sétima edição (adoro o número 7, como as sete vidas do gato e também, parece, de Saramago) datada do ano de 2020, não dispensa a leitura do seu original. Para ficarem a par do contexto, o escritor propõe falar sobre "o que a selva nos pode ensinar sobre o amor, a morte e a felicidade":

 

"Punha-se a um canto da sala a dormitar...
Debitava uma cantilena sobre um filósofo
ou filosofia...
Levantava-se e punha-se a uivar
O que significa ser humano
Criamos civilização
Sermos capazes de distinguir o bem do mal
Capazes de ser bons ou maus
Nossa singularidade é a capacidade de amar
Ter a noção de que vamos morrer um dia
Simplesmente contarmos histórias
E acreditarmos nelas
Seres humanos animais crédulos
Da credulidade à hostilidade, um pequeno passo

As histórias têm o lado negro
Cada história lança uma sombra
Escondida por detrás da mensagem
Para passar por cima
Aspectos que em nós não nos agradam
O lobo é o lado negro da humanidade
Irónico a nível etimológico
Lukus, lobo, leukus, luz
Eram muitas vezes confundidas
Apolo foi o deus do sol e deus dos lobos
O lobo é a clareira na floresta
Nós estamos na sombra do lobo
Observarmo-nos a partir dessas sombras
É aquilo que não queremos saber sobre nós."

Mark Rowlands
em, O Filósofo e o Lobo

E assim, aqui vos deixo esta reflexão, com votos de continuação de boa semana!

16
Mar23

Memória

Homenagem aos que partiram


Cotovia@mafalda.carmona

Homenagem aos que partiram

  • Olá bom dia! Este post de Hoje é o resultado da leitura das várias publicações dos blogs do Sapo de que sou seguidora, com referência, pelo título, ao da Maria Soares, "Narrativas", nomeadamente, "Memórias", e das conversas, troca de ideias, comentários, sugestões e feedback dos leitores Amigos e seguidores do meu blog Cotovia e Companhia. (nota: em outubro 2023: o blog referido deixou de estar disponível por a sua autora o ter tornado privado).


Com este texto, e em meu nome, Mafalda Carmona (Cotovia) desejo partilhar partes da minha vida, e de quem sou, com honestidade, sem deixar de reconhecer que nem sempre foram momentos fáceis. Ao fazer isso, espero que estas experiências possam de alguma forma contribuir para o bem-estar e alegria de outras Pessoas. O único objetivo é ser parte desta comunidade do Sapo Blogs, que tão bem me acolhe, em que as pessoas se ajudam mutuamente, sem procurarem destaque ou superioridade.

 

Sempre ouvi dizer que "As pessoas felizes não tem história." Embora compreendendo o sentido da frase, permiti-me, insistente, acrescentar uma observação: "Quem também não tem história é quem não tem memória."

Ao longo do tempo, por opção, tentei, e falhei nessa tentativa, não ter história pela vontade maior de ser feliz. Nessa troca, ou pacto, o anonimato é um alívio, ser apenas mais uma na multidão, uma paixão frustrada, porque, vida cruel, não se faz só, mas acompanhada, e nem sempre pela felicidade.

Na fase dois, a estratégia foi apelar para a entrada em cena da memória, ou falta dela, para alcançar essa felicidade: esquecer, obliterar, compartimentar. No rescaldo, verifico a quantidade de momentos felizes, agarrados por um cordão umbilical, que se esvaem no não lugar da não memória, um agonizante "fade in" na densa neblina de éter do indesejado.

A fase três, foi dedicada a recuperar a memória, dos outros, dos lugares, idades, cheiros, aventuras e desventuras. Perceber e receber a alegria, a tranquilidade, o benefício da saúde.

Reconhecer que não se é feliz o tempo todo. Há momentos de tristeza, que tal como a felicidade e a alegria, são independentes da vontade, estão no reino da emoção, do sentir. E, quando estão, quando aparecem, é para aceitar, sem nada excluir. Com razão e sentir, viver.

Viver na dança eterna entre a lógica e a emoção.

Assim, em 3 passos, um ana-ni ana-não, ficas tu e eu não, entre a memória e a aceitação, no caminho da felicidade, cheguei a uma placa que diz:


"Felicidade é S.A.R.A.R. - Saudar, aceitar, respirar, avançar, repetir."

Como canto, poisa uma Cotovia a dar as boas vindas a um novo dia. Cumpridora, levanta voo logo que lhe tocam os primeiros raios aurores, vertiginosa sobe até ser apenas um ponto nos pontos das fases da vida.

Com encanto, pares de olhos de pestanas compridas, das crianças de antes e de agora, em comum os corações ternurentos e ávidos de sentir, despreocupadas, brincam sobre um Sol que nasce para a ventura da Liberdade.

Fecho os olhos e sinto o conforto da resistência, no registo das memórias futuras presentes nestes momentos felizes, para que não escapem, novamente, instáveis fios de seda finos e escorregadios. Agarro-as, queridas pedras fixas, umas redondas, outras meio partidas, para as por nas prateleiras de vidro, guardo-as no grande armário das Felicidades, sem chaves para fechar portas nem janelas, ficam à mão de semear, para quem interessar.

 

Beijinhos e abraços de asas a todas vós Pessoas, espero que gostem! Agora vou ali à Biblioteca Municipal dar boleia a mais 5 amigos de asas, para residirem aqui no ninho na próxima quinzena. Amanhã apresento-os!
Boa quinta-feira a todos, dia feliz!

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Serra da Estrela fotografia de Mafalda Carmona 

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Sinopse A Coletânea “ERA UMA VEZ…ALENTEJO” é uma obra que inclui poemas, fotografias, ou obras artísticas originais cujo tema e foco principal seja o Alentejo, e está abrangida no projeto europeu “Antologias Digitais”. Tendo a cidade de Évora sido recentemente nomeada Capital Europeia da Cultura 2027, faz todo o sentido homenagear não só a cidade como também toda a beleza circundante e riqueza cultural da região, e observar as maneiras como estas inspiram as pessoas de vários pontos do globo. Autor: Vários Formato: pdf Edição: 08.05.2023 Ilustração capa e contracapa: Ana Rosado; Vítor Pisco Editora Recanto das LetrasBaixar e-book

{Cotovia} em Antologia

Sinopse Aquilo que temos vindo a testemunhar desde 20 de fevereiro de 2022, provoca em nós sentimentos complexos, melhor expressados através da arte. Esta antologia recolhe estes sentimentos, e distribui-os para quem neles se reconforta e revê. Para o povo ucraniano, fica a mensagem de acolhimento, não só em tempos de crise, mas sempre. Porque é difícil expressar a empatia por palavras, mas aqui fica uma tentativa, por 32 autores, nacionais e internacionais. Autor: Instituto Cultural de Évora Formato: pdf Edição: 14.08.2023 Ilustração capa e contracapa: Ana Rosado Editora Recanto das Letras

{Apoio à Vítima}

A APAV tem como missão apoiar as vítimas de crime, suas famílias e amigos, prestando-lhes serviços de qualidade, gratuitos e confidenciais. É uma organização sem fins lucrativos e de voluntariado, que apoia, de forma qualificada e humanizada, vítimas de crimes através da sua Rede Nacional de Gabinetes de Apoio à Vítima e da sua Linha de Apoio à Vítima – 116 006 (dias úteis: 09h – 21h). Aquando de um crime, muitas pessoas, para além da vítima directa, serão afectadas directa ou indirectamente pelo crime, tais como familiares, amigos, colegas. A APAV existe para apoiar. Os serviços da APAV são GRATUITOS e CONFIDENCIAIS.

{Notícias Sobre a Ucrânia}

A UE condena com a maior veemência a agressão militar não provocada e injustificada da Rússia contra a Ucrânia. Trata-se de uma violação flagrante do direito internacional, incluindo a Carta das Nações Unidas. Apelamos à Rússia para que cesse imediata e incondicionalmente todas as hostilidades, retire o seu pessoal militar e equipamento de todo o território da Ucrânia, no pleno respeito pela soberania, independência e integridade territorial da Ucrânia dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas. A UE apoia os princípios e objetivos fundamentais da fórmula de paz da Ucrânia enquanto via legítima e credível rumo a uma paz global, justa e duradoura.
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