Sou feliz...
Cotovia@mafalda.carmona
...ou chá e torradas... ou o confronto...ou como, não é segredo, existem várias formas de ter talento para a felicidade.
- Ou ainda como "O Livro dos Camaleões - Contos", do José Eduardo Agualusa, edição da quetzal, e livro residente aqui no ninho da Cotovia, teve uma conversa informal com o livro convidado "Sou Feliz", da Bronnie Ware, num lanche matinal, o chamado brunch, providenciado pelo "Livro do Chá", de Edite Vieira Phillips, da colares editora, acompanhado de uns belos "scones" do livro "Como Fazer (quase) Tudo", com anotações e esclarecimentos da sucedânea do anterior participante, a recém chegada plataforma Open Chat AI, e, moderação da Cotovia, obviamente que não iria faltar a este fantástico "brunch", do dia de Hoje.
Fomos, portanto, 5 à mesa, nesta tertúlia fantasiosa, e, para como habitualmente, valorizar a vossa participação Pessoas, e sem os inconvenientes de andarem à chuva, apanharem um transporte, neste caso avião, molharem as penas, digo os ossos, apanharem neve até chegarem a este refúgio, podem, confortavelmente, sem sair dos vossos ninhos, incluir os vossos "insights", ali nos comentários, no final do novo Diálogo da Cotovia ( e para não voltar aquela coisa aborrecida dos monólogos, conto convosco, Pessoas), mais ou menos Surreal.
Voltamos a contar com a presença de inúmeros P.S. , retornados ao blogue, de onde, pelos mesmos motivos que a Cotovia tem brancas, ou seja, os stresses da vida, andavam afastados, mas voltaram em força, como uma tendência da nova estação da Primavera, que tarda nada nos vai entrar pelas portas e janelas a dentro, benzadeus, prima das benzodiazepinas, vinda diretamente da providencial "farmácia natural" da Natureza e dos seus ciclos.
E onde é este refúgio?
Ora na montanha Nebesa, em Livek, Kobarid, na Eslovénia.
País onde as nuvens são diferentes das nossas, asseguro, são dispersas e parecem feitas em 3d, e as Pessoas tem por hábito refugiar-se em construções abrigadas das adversidades da natureza, neste caso um projeto do arquiteto Rok Klanjscek, que arquitetou um ambiente sofisticado, onde conjugou opostos, também ele, esta coisa de equilibrar em vez confrontar deve ser uma característica de quem se dedica à arquitetura, para respeitar a tradição e folclore eslovenos e os últimos progressos tecnológicos.
Isto porque como em todo o lado, e em qualquer tempo, há um participante invisível, discreto mas não risível, o espaço onde estamos, onde vivemos e convivemos.
Nesse quesito um dos residentes é o livro "Cabana - da arquitetura vernácula à contemporânea", de Alejandro Bahamón e Anna Vicens Soler, e a escolha deste "destino" deve-se a uma inflexão nas opções estilísticas da Cotovia, por influência dos cenários de guerra, e da destruição das construções, que me levam a preferir edificações regulares, sólidas, sem desconstrutivismo, que de descontrução quero, finalmente, distância, e de futuro prefiro a segurança, sobretudo se aliada às chamadas "fachadas de vidro" ou "cortinas panorâmicas"( Panoramix haveria de também as apreciar) de onde podemos apreciar as extraordinárias vistas enquanto, confortavelmente, conversamos bebericando uma bebida quente, para o caso chá, mas um café ou leite com chocolate bem quente, também são opções válidas...Não sei, que sugerem, Pessoas? De qualquer forma, neste caso, mi "casa es tu casa" ou seja, "a cabana do Rok es nuestra cabana", pelo menos no tempo em que aqui estiverem.
Podem ver onde se querem sentar aqui.
Ora bem, entretanto, e por falar de apresentações, já vos tinha apresentado o livro "Sou Feliz", mas brevemente a própria tratou de se apresentar, e segundo as impressões desta autora australiana, também cantora e compositora:
"após anos de insatisfação profissional, resolveu procurar um emprego que tivesse verdadeiramente sentido.(...) a prestação de cuidados paliativos." Conta que a dado momento, "publicou um texto no seu blogue intitulado "Os cinco maiores arrependimentos antes de partir." No primeiro lugar dos arrependimentos, está "Quem me dera ter tido a coragem de levar uma vida verdadeiramente minha, e não aquela que os outros esperam de mim".
E, apesar do livro ter como título " Sou Feliz ", este arrependimento só aparece em 5° (e último) lugar, talvez por ser coisa mais abstrata, do que o 2° arrependimento "Quem me dera não ter trabalhado tanto" , o 3° "Quem me dera ter tido coragem para expressar os meus sentimentos", ou o 4°, "Quem me dera ter mantido o contacto com os meus amigos".
Nesta felicidade, relembra um episódio passado com uma das pacientes do centro de cuidados paliativos, Cath, após a auxiliar nos cuidados diários, a levou na cadeira de rodas para o sol no exterior ( e vou tomar a liberdade e sintetizar o conteúdo, a fazer de conta que tenho uma asa de Stephen King...)
"-Ouça aquele pássaro.
Ficamos sentadas, a ouvir o canto da ave, e sorrimos quando ouvimos a resposta do companheiro, vinda de uma árvore mais afastada.
-Agora, cada dia é uma dádiva, sabe? Já era, mas agora que abrandei o suficiente, é que vejo a enorme quantidade de beleza que cada dia nos oferece.
(...) Contou-me como acabara por ver o poder da gratidão:
-É muito fácil querer sempre mais na vida, o que é correto até certo ponto, visto que faz parte de sonhar e crescer. Mas, como nunca teremos tudo o que queremos, apreciar o que vamos tendo ao longo do caminho é a coisa mais importante."
Nesta altura, o livro do camaleão disse:
"- Construí muitas pontes (...) Amava o meu trabalho. A partir de certa altura, porém, deixei-me conquistar pela arrogância e comecei a construir pontes por vaidade, como um daqueles escritores que escrevem não para ver melhor, mas para serem vistos."
Depois, ou antes, não importa o tempo, acrescentou:
"-Tenho-me exercitado nisso: em acreditar. Não há pior doença do que o ceticismo. Construímos uma ponte ou passamos a nado?
-Dizem que a nado é mais difícil. Eu sei construir pontes.
-Então vamos!
-É a sombra?
-Com tanta luz e tu só vês a sombra?"(...)
"- O tempo vai reiniciar -disse-me.- Daqui a pouco amanhece e será a primeira manhã do mundo. Você pode fazer o que quiser com ela. Somos aquilo que acreditamos ser.(...) Terminou de beber e foi dançar. Segui-a. Era um esforço inglório, como dançar numa pista de patinagem, sem os patins e sem prática de patinar. Felizmente a multidão estava tão concentrada que ninguém conseguia cair.
Achei que podia tirar dali uma lição revolucionária - unidos não cairemos!"
O lanche, ou brunch, foi interrompido por um telefonema da Alexandra Lucas Coelho para dizer:
"Agualusa diverte-se e diverte-nos com o facto de ter talento para a felicidade. E não haverá, na língua portuguesa contemporânea, outro caso tão flagrante e abrangente. Este talento está nos seus livros, escritos para raptar o leitor a primeira vista." Espero que para o caminho da felicidade.
Ou como prosaicamente diriam os ingleses, "onde uns veem água e pão duro, outros veem chá e torradas".
P.S.
As personagens deste texto são ficcionadas. As referências aos livros e citações bem como os seus autores são reais, mas a situação e evento "brunch" descrito neste texto também são produto da imaginação da autora, e este texto não deve ser interpretado como uma representação precisa da realidade. Entendasse, até gostaria que fosse uma realidade, e que a Alexandra Lucas Coelho fará com toda certeza vários telefonemas, mas nenhum deles, realmente, foi para esta Cotovia.
P.S.#2
As torradas feitas de pão do dia anterior, podem ser uma opção mais saudável se barradas com mel. Para um brunch mesmo muito especial, podemos optar pelas fatias douradas, também chamadas de rabanadas.
P.S.#3
Uma outra opção, com mais ou menos o mesmo número de ovos da receita das rabanadas, é fazer um pequeno pão de ló, seguindo a receita do livro do chá (o anteriormente no forno é "cozer durante 20 minutos, retirar da forma 5 minutos após a cozedura, colocar em cima de uma rede e sirva frio):
P.S.#4
Como Saramago reflexionou no seu texto "Dia7 O outro lado", podemos admitir que as coisas tenham outra aparência quando não estamos a olhar para elas, mais ou menos como a animação "A vida secreta dos nossos bichos", mas na versão "A vida secreta dos nossos livros".