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{Cotovia} e Companhia

Olá Pessoas! Bem-vindas ao blogue da Cotovia onde (m)ando {cotovia}ando! Sigam a cor deste vôo: "Nascemos poetas, só é preciso lembrá-lo. Saber é quase tudo. Sentir é o Mundo." @mafalda.carmona

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{Cotovia} e Companhia

31
Mar23

Os coelhinhos da Páscoa...

Republicação, original de 2018-03-23


Cotovia@mafalda.carmona

...as Madonnas...
 
Ou as saudades que tenho do pacote de amêndoas da Páscoa...ou porque falta uma semana para a sexta-feira Santa...
 
  • Quando era pequena, pela Páscoa, eram certas duas coisas: uma, não havia escola; duas, ia visitar as minhas avós a Lisboa. Provavelmente haviam mais coisas certas nesta quadra, mas as que retive na memória são estas duas.

    Páscoa.jpg

     

Então lá ia eu, qual joaninha voa, voa, visitar as minhas avós a Lisboa, no banco de trás do mini do Pai. Primeiro a minha Avó paterna, na casa de quem ficava com instruções para ambas ficarmos muito sossegadas a fazer paciências na mesa da sala de jantar. E até ficávamos… ficávamos até, com certeza absoluta, podermos afiançar que os meus progenitores filho e nora da Avó C. já estavam longe e… saíamos para a rua, muito satisfeitas as duas, uma velhota toda vestida de preto, que a Avó era viúva de marido e de 10 filhos, e por isso nunca largou a cor de luto eterno, e eu, normalmente com indumentária de época festiva, já mais primaveril, de mãos dadas, a unir-nos as meias pelo joelho que ambas usávamos, as da Avó pretas, claro, as minhas de croché cor cru, que é coisa estranhíssima para os dias de hoje.
 
Descíamos a rua para ir a uma pequena mercearia de bairro que ficava numa esquina e onde, entre centenas de outras coisas, algumas delas preciosas e guardadas por detrás do balcão do Sr. Merceeiro, estavam os tais pacotes de amêndoas. Aliás, nessa altura só tocava no pacote depois: depois de a Avó falar com o merceeiro, depois de perguntarem pela saúde de todos os vizinhos e conhecidos, depois de pedir o pacote das amêndoas, depois de as pagar com moedas de escudo e tostão, depois de a Avó se despedir, depois de sair da mercearia e, finalmente depois disto tudo, baixava-se para ficar da minha altura e dizia: "Netinha, aqui tens as tuas amêndoas da Páscoa!"
 

texto páscoa.JPG

 

Era um tesouro! Verdadeiramente!
 
E no pacote vinha uma imagem de Cristo com anjinhos, ou uma imagem de Maria com manto branco e azul e um menino Jesus pela mão ou ao colo rodeados de pombas brancas e rosas, ou ainda a imagem de uma multidão de pessoas com mantos azuis, vermelhos e brancos a rodearem uma espécie de gruta de onde saiam raios de luz.
 
Na companhia da Avó e das amêndoas, descíamos mais um pouco a rua, e lá íamos sentar-nos no miradouro, as duas de frente uma para a outra, nas namoradeiras do muro, e então a Avó falava sobre o Jesus, porque o Jesus estava no pacote das amêndoas e isso era sempre o mote para a Avó começar a contar a história do Jesus, um Homem que tinha vivido no tempo dos Romanos e que era filho de Deus, mas também de José e Maria (um conceito que levei algum tempo a absorver pois o Pai, o meu, não era católico e para ele isto era um pouco complexo e pouco cientifico).
 
Como sempre, as histórias da Avó eram muito sanguinárias, aquilo eram sempre muitas facadas, e havia sempre sangue e mortandade, mesmo quando nada o faria prever, por isso a subida de Jesus à Cruz e todo o seu sofrimento eram recebidos com o mesmo horror espantado que as restantes histórias. Porque o João Ratão não cai simplesmente no caldeirão, não, era todo o horror da queda e da panela a ferver e das brasas e dos gritos e...
 
E salvas as devidas distâncias, em Jesus não era a simples crucificação e morte, eram as lágrimas de sangue de Cristo e os pés esfolados, e depois os joelhos esfolados quando cai, e depois mais lágrimas de sangue, e depois a subida à cruz, até podia ouvir os membros a serem repuxados, os ossos a rangerem, e os pregos nas mãos e nos pés, e depois mais sangue e ainda a coroa de espinhos, tudo aquilo era um sofrimento tão grande que no fim, quando Jesus morre, eu ficava com um sentimento misto de alivio e dor.
 
Desde essa altura que sinto a Sexta-feira Santa como um dia tristíssimo, graças à minha Avó.
 
Obviamente que a Avó não acabava ai, a Avó prosseguia até ao terceiro Dia, dia da ressurreição de Jesus, Domingo de Páscoa. Nesse momento eu ficava rejubilante porque um Homem tão bom e sofredor tinha ressuscitado do mundo dos mortos. Assim, para mim, o Domingo de Páscoa, para além de ser o dia em que finalmente podia comer as amêndoas, ficou o dia associado aos recomeços, ou às segundas oportunidades.
 
Porque já alguém disse que, para os humanos claro, quem faz uma vez, não faz obrigatoriamente duas, mas quem faz quatro faz cinco, e de certeza!
 
Feliz Páscoa a todas e todos!
 
P.S.
 
Percebi, alguns anos depois, que a Avó era profundamente católica, coisa incompreensível para mim, sobretudo por a Avó ser viúva e ter visto morrer todos os filhos menos um, o meu Pai, e até a minha Tia L. aos 33 anos morreu, com a idade de Cristo, eu sei, mas para mim continua um mistério esta devoção da Avó. Ou talvez, além das meias pelos joelhos, partilhássemos também a esperança nas segundas oportunidades, e a Avó o demonstrasse assim na sua dedicação e amor a Jesus, que estaria lá no Céu a tomar conta dos seus irmãozinhos em Cristo, e filhos Meninos da Avó.
 
 
P.S.#2
 
Visitar a Avó materna era após o lanche, e dá outro post com direito a coelhinhos a sério, saudades e uns quantos "depois". ;)
 
P.S.#3
 
Este post é sobretudo para as minhas filhas que não tiveram oportunidade de conhecerem as suas bisavós nem apreciar as histórias "de faca e alguidar" da Avó C. nem provarem o pão feito pela Avó O.
 
P.S.#4
 
Estas amêndoas tinham umas rosinhas-mini com folhas pequeninas e pontinhos de açucar branco em volutas arredondadas e em relevo, todo um requinte de malvadez para demorar mais tempo a comer. :D

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{Cotovia} em Colectânea

Sinopse A Coletânea “ERA UMA VEZ…ALENTEJO” é uma obra que inclui poemas, fotografias, ou obras artísticas originais cujo tema e foco principal seja o Alentejo, e está abrangida no projeto europeu “Antologias Digitais”. Tendo a cidade de Évora sido recentemente nomeada Capital Europeia da Cultura 2027, faz todo o sentido homenagear não só a cidade como também toda a beleza circundante e riqueza cultural da região, e observar as maneiras como estas inspiram as pessoas de vários pontos do globo. Autor: Vários Formato: pdf Edição: 08.05.2023 Ilustração capa e contracapa: Ana Rosado; Vítor Pisco Editora Recanto das LetrasBaixar e-book

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Sinopse Aquilo que temos vindo a testemunhar desde 20 de fevereiro de 2022, provoca em nós sentimentos complexos, melhor expressados através da arte. Esta antologia recolhe estes sentimentos, e distribui-os para quem neles se reconforta e revê. Para o povo ucraniano, fica a mensagem de acolhimento, não só em tempos de crise, mas sempre. Porque é difícil expressar a empatia por palavras, mas aqui fica uma tentativa, por 32 autores, nacionais e internacionais. Autor: Instituto Cultural de Évora Formato: pdf Edição: 14.08.2023 Ilustração capa e contracapa: Ana Rosado Editora Recanto das Letras

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A UE condena com a maior veemência a agressão militar não provocada e injustificada da Rússia contra a Ucrânia. Trata-se de uma violação flagrante do direito internacional, incluindo a Carta das Nações Unidas. Apelamos à Rússia para que cesse imediata e incondicionalmente todas as hostilidades, retire o seu pessoal militar e equipamento de todo o território da Ucrânia, no pleno respeito pela soberania, independência e integridade territorial da Ucrânia dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas. A UE apoia os princípios e objetivos fundamentais da fórmula de paz da Ucrânia enquanto via legítima e credível rumo a uma paz global, justa e duradoura.
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