Voo de Pedra
Cotovia@mafalda.carmona
(*)
Voo de Pedra
**
Saíram a passear, suave alegria,
tendo a hora dourada como guia,
de quem, simplesmente, segue a magia
do inevitável ocaso do dia.
*
Os melros trocaram trinados leves,
em dueto de dulcíssima harmonia,
deitados na tarde que se sentia,
nas ervas frescas, pousaram breves.
*
De manto negro, quente e brilhante,
compõem melodia plena de amor,
que chega às crias no ninho distante.
*
Quando o materno voo é pedra caída,
os pequenitos ficam sem amparo,
pois nem o pranto lhe devolve a vida.
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Mafalda Carmona
07.05.2023 23.30h
(*) Desenho a carvão de Mafalda Carmona 15.10.2022
P.S.
Escrevi este poema baseado numa memória de um episódio a que assisti perplexa, onde fiquei consciente de que o bem-querer existe entre as aves. Quando à inspiração para o formato em soneto, foi inspirado pela leitura do postal de hoje no blog da Poetisa Maria João Brito de Sousa, onde poderão encontrar a Coroa de Sonetos da sua autoria e do Poeta Custódio Montes, "Nem Peixe Nem Ave, Quero Ser Humano", aqui fica o link para o blog poetaporkedeusker.
"E assim que o Sol nasça, acorrem bem despertos,
Ao verso que acorda de braços abertos
E de sonhos, outros, os poemas se enfeitam."
Despertas de sonhos, estas coroas estão vivas, respiram, voos de outras aves elas inspiram.
Voos que poderiam ser animados, senão fossem de pedra, vicissitudes que acontecem na vida de humanos e também na vida de outras aves.
Serão humanas ou não, isso está por descobrir, mas o soneto está desperto e a sorrir.
Um bom dia, queridas Pessoas ( e aves e Aliens) ! Boa semana!
P.S.#2
Há um adágio que era muito usado pela minha avó materna, costureira de profissão, mulher independente e muito exigente, que era o seguinte: "o que se borda de noite, desfaz-se de dia", no sentido de que a falta de iluminação noturna implicava incapacidade de fazer os pontos e os remates em condições de resistir ao uso do dia ou ao "primor" exigível na execução.
E... assim foi que hoje de tarde reescrevi parte dos versos, nomeadamente os dos tercetos, mantendo o decassílabo, harmonizei a sonoridade, julgo que mais agradável nas ligações no interior dos versos.
Outra alteração que seria necessária, mas que não faço ideia de como a poderei corrigir, é a rima dos quartetos, pois enquanto escrevia o poema, retive vagamente a ideia, de que a rima dos quartetos não está nem ABBA, nem ABAB...sobretudo do primeiro quarteto, mas esqueci completamente e publiquei esta manhã tal como estava.
Quando li o comentário do José da Xã, que notou essa falta de rima, foi apenas quando, incrédula lembrei que tinha esquecido!
E assim, aqui ficam as notas explicativas deste exercício poético, espero que me desculpem Pessoas!