Tempo Perdido
Poesia Soneto Hendecassilábico
Cotovia@mafalda.carmona
(*)Tempo Perdido
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Escapas, audaz e esquivo, intocável,
Persigo-te e és imparável tratante.
Insistente fuga, razão inconstante,
Onde andas, altivo, ágil e implacável?
*
Culpa minha a deste jogo inaceitável?
Logo serei eu uma ilusão constante?
Quando és tu o cúmplice deselegante,
Rude e a todo e cada instante intragável?
*
É hora, por mim és tempo desmedido,
Serás generoso, atinado e aprende,
És meu, vou guardar-te e ver-te rendido.
*
Porque me afastaste com tanta insistência?
Pára, vê, enxerga que mando eu, entende,
Que se fui ninguém, Hoje, sou resistência.
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Mafalda Carmona
04.06.23 11.45h
(05.06.23 00.10h editado)
(Soneto em verso hendecassilábico)
Durante as pesquisas para escrever o soneto, e a propósito da sua gestão ou divisão, encontrei um artigo sobre o conceito do tempo na Índia e a sua evolução, em que é apresentada a contagem do tempo de um modo, a meu ver, muito poético, tem inclusive um hino para o definir, "hino do Ṛgveda":
"Doze são as jantes,
mas uma só a roda,
três os cubos;
mas quem o saberá?
dentro dela 360 raios,
fixos como pregos,
ao mesmo tempo móveis
e imóveis...".
As jantes são os meses, a roda o ano, os cubos as três estações climáticas tradicionalmente consideradas na Índia (fria , quente e húmida ) e os raios, os dias do ano.
E também a divisão do ano tem uma nomenclatura muitíssimo interessante:
"A divisão do ano em seis "estações" de dois meses cada uma:
A1- estação vasanta (primavera), que começa no equinócio de Março, compreende os meses madhu ("mel, néctar") e mâdhava ("doçura primaveril")- meses -Março e Abril
A2- griṣma ("calor estival") compreende os meses çukra ("replandecente") e çuci ("branco, luminoso") meses Maio e Junho
B1- varṣa ("chuva"),correspondente à monção chuvosa, os meses nabhas ("nuvem") e nabhasya ("nublado, enevoado") meses Julho e Agosto
B2- çarad ("outono"), que começa no equinócio de Setembro, os meses iṣa ("sucolento") e ûrja ("vigoroso") meses Setembro e Outubro
C1- hemanta ("inverno") os meses sahas ("potência, poderio") e sahasya ("poderoso") meses Novembro e Dezembro
C2- finalmente çiçira ("frescura, cacimba") os meses tapas ("calor") e tapasya (lit. "quentura, fervor" e daí "devoção austera") meses Janeiro e Fevereiro..
E segue por ai fora o artigo sobre o tempo e a sua contagem, isto tudo a propósito deste meu Soneto sobre o Tempo que podem consultar aqui Pessoas.
E, se na verdade me perco nas pesquisas sobre os temas, é a minha desgraça na gestão do tempo, porque as questões e interesse vão crescendo e se não ponho um travão a escrita fica de parte, por outro lado foi esse perder que fez nascer este Soneto em que coloco a questão:
Então e se fosse ao contrário, se fosse, não eu, mas o Tempo a perder-se?
Espero que gostem desta reflexão!
Bom domingo, dia feliz, com tempo para tudo aquilo que mais desejarem, queridas Pessoas!
(*) Origem da fotografia aqui